Por que a monogamia pode acabar com a felicidade dos casais?
O geneticista e antropólogo francês Jacques Ruffié afirma não haver dúvidas de que a monogamia praticada, pelo menos de modo formal, nas sociedades patriarcais causa muitos problemas. O hábito acarretando ao mesmo tempo exigência e tédio gera uma tendência à separação. O autor enuncia as diversas fases por que passa a vida da maioria dos casais (com um número de variações individuais):
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1ª – Uma fase de início, durante a qual tudo é maravilhoso, cada um idealizando o outro e se esforçando para satisfazê-lo. Ao mesmo tempo o casal se afasta do resto do mundo: enfim, sós!
2ª – Uma fase de primeira crise com o contato do real; é preciso garantir o fim do mês. Os defeitos mais gritantes começam a ser percebidos. Essa fase é geralmente superada graças à atração recíproca, ainda viva, que um parceiro sente pelo outro. É o momento mais favorável para instaurar um verdadeiro diálogo em pé de igualdade, a fim de se chegar a um equilíbrio.
Senão:
3ª – Uma série de crises vão se suceder, agravando-se e podendo acarretar:
a) a ruptura. A vida em comum torna-se insuportável. O casamento explode sob o efeito conjugado das forças centrífugas, nascidas do permanente estado de conflito e das ofertas aceitáveis para cada um dos parceiros, que continuam a vir ao mundo externo;
b) em alguns casos, sentindo esse perigo de explosão, o casal se retrai por uma espécie de reflexo de autodefesa. Ele tenta anular os poderes centrífugos, reprime a sua agressividade.
4ª – Mas o equilíbrio obtido pode ser apenas provisório. Uma calmaria aparente muitas vezes disfarça um aumento de rancor e de incompreensão. É então que uma crise, mais violenta porque adiada, explode no momento em que menos se espera. Ela se reveste da aparência de um cataclismo, deixando os dois protagonistas boquiabertos.
5ª – O casal pode persistir, ao preço de muitas renúncias. Cada um se despersonaliza, procurando assemelhar-se ao outro. Rompe-se com os amigos pessoais (somente os amigos do casal são ainda aceitos, e bastante mal). Os filhos tentam fugir desse meio familiar árido e pouco hospitaleiro.
6ª – Existem, enfim, crises fecundas, onde os dois protagonistas tomam consciência dos seus limites, de suas próprias forças e da realidade de um fracasso parcial. A fantasia ideal do início dá lugar a uma versão mais realista. Cada um se torna mais autônomo.
Se as desavenças são abordadas de frente, em vez de serem ocultadas, e essa crise aparecer bem cedo na vida, numa época em que a atração entre os dois parceiros ainda é grande, ela pode ter um efeito construtivo — fazendo nascer um diálogo real, revelando novas diferenças e novas afinidades. Mas é preciso saber que o equilíbrio jamais é definitivo, pois o casal é formado por dois seres vivos, inteligentes, que evoluem.
Para Ruffié, o laço conjugal, juridicamente fixo e inalterável, no plano biológico é uma ficção que nossa fraqueza amorosa e nossa instabilidade afetiva assinam. "Se os casais deixassem de associar a fidelidade à sexualidade seria positivo para o casamento, na medida que a mudança periódica de parceiros provoca, a cada vez, um aumento do desejo sexual.", conclui o antropólogo.
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