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Regina Navarro Lins

"Meu marido não admite que eu me relacione com as pessoas"

Universa

04/06/2018 04h06

"Estou casada há cinco anos. Mudei de vida para casar. Larguei emprego, planos e hábitos para assumir o casamento. Meu marido sempre deixou claro que me desejava no lar cuidando dos filhos. Sinto que perdi a minha individualidade. Até dos amigos me afastei. Os amigos homens nem pensar, mas estou excluída também da convivência com  amigas solteiras. Meu marido não admite, é de um ciúme doentio. Outro dia encontrei por acaso uma amiga na rua e acabamos almoçando juntas num restaurante próximo à minha casa. Ele, por acaso, nos viu e fez um escândalo. Disse para a minha amiga que sou 'uma mulher casada' e que não saio com mulheres 'caçadoras', 'soltas na vida'. Foi um grande constrangimento. Não sei mais o que fazer. Não tenho condições econômicas de abandoná-lo nem família para onde voltar. Estou desesperada. Ele não vai mudar…"  

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O relato acima pode parecer estranho diante de toda a mudança de comportamento que se observa hoje, mas deixa claro como ainda há casos de domínio dos homens sobre as mulheres. O patriarcado é isso. Uma organização social baseada no poder do pai, em que descendência e parentesco seguem a linha masculina. As mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação.

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Apoiando-se em dois pilares básicos — controle da fecundidade da mulher e divisão sexual de tarefas — a sujeição física e mental da mulher foi o único meio de restringir sua sexualidade e mantê-la limitada a tarefas específicas. A fidelidade feminina sempre foi uma obsessão para o homem. É preciso proteger a herança e garantir a legitimidade dos filhos. Isso torna a esposa suspeita, uma adversária que requer vigilância absoluta. Temendo golpes baixos e traições, os homens lançaram mão de variadas estratégias para controle da mulher. Ao homem, por não haver prejuízo para sua linhagem, concede-se o direito de infidelidade conjugal.

Esse antagonismo entre os sexos impede uma amizade e um companheirismo verdadeiros, fazendo com que a relação entre homem e mulher se deteriore. As relações conjugais têm sido de condescendência de um lado e obrigação de outro, cheias de desconfianças, ressentimentos e temores. Às mulheres sempre foram negadas quase todas as experiências do mundo. Consideradas incompetentes e desinteressantes foram relegadas ao espaço privado ou impedidas de crescer profissionalmente.

Surgida nos anos 1960, a pílula anticoncepcional desferiu o golpe fatal nesse sistema, que se sustentou tanto tempo apoiado no controle da fecundidade da mulher. A partir de então a mulher tem filhos com quem quiser e quando quiser.  A consequência foi a gradual destruição de valores tidos como inquestionáveis no que diz respeito ao amor, ao casamento e à sexualidade. Isso traz a perspectiva do fim da guerra entre os sexos e o surgimento de uma sociedade onde possa haver parceria entre homens e mulheres.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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