"Viajo muito e meu ex-marido vai morar com as crianças"
"Tenho 38, sou engenheira e separada. Meus filhos têm sete e cinco anos. Fui convidada para um cargo de diretoria na empresa, mas para isso terei que passar mais de um ano viajando muito para os EUA. Sei que essas viagens vão ser muito importantes para minha carreira, para o cargo que sempre sonhei. O problema é que, verdade ou não, sempre acreditei que para haver equilíbrio emocional os filhos devem ficar junto às mães. Por isso, fico confusa, sem saber o que decidir. Tive uma longa conversa com meu ex-marido e ele sugeriu que as crianças morem com ele. Não foi fácil para mim, mas resolvemos que isso é o melhor a fazer. Elas já estão se mudando. O que me deixa mais tranquila é que ele é bastante presente e super ligado nos filhos. Mas será que o homem consegue dar conta de cuidar de tudo sozinho?"
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É claro que, por fugir ao modelo tradicional, não faltam críticas a essa nova possibilidade de organização familiar. Entretanto, quanto à ausência diária da figura paterna ou materna, surgem novos questionamentos. Concordo com quem afirma que o fundamental para a criança é se sentir amada, respeitada e valorizada, e que em nenhum momento aparece a necessidade de duas presenças físicas, uma masculina e outra feminina, para que isso ocorra.
Como a pesquisa do sociólogo americano Scott Coltrane documenta, os homens mais jovens, principalmente, estão começando a descartar as definições estereotipadas de paternidade como um papel distante, provedor de disciplina, ao invés de maior envolvimento com o cuidado da criança, geralmente classificado de "maternagem".
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Ao contrário do que prega a tradição cultural, a maternagem — cuidados cotidianos proporcionados à criança, acompanhados da consciência da responsabilidade direta por ela — não tem sexo, mas também não tem nada a ver com os poucos minutos por dia que o pai tradicional dedica a seus filhos.
Alguns homens romperam na frente com os padrões estabelecidos. Pouco antes de ser assassinado, John Lennon declarou publicamente: "Gosto que se saiba que, sim, cuido do bebê e faço pão, que eu era dono de casa e me orgulho disso." E se isso fere o papel masculino, ele pergunta: "Não está na hora de destruirmos a ética do macho?… A que nos levaram todos esses milhares de anos?"
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