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Regina Navarro Lins

"Não suporto mais a dependência emocional que meu marido tem de mim"

Universa

23/04/2018 04h01

(Caio Borges/Arte)

"Estou casada há quatro anos e cada vez suporto menos da dependência que meu marido tem de mim. Nós dois trabalhamos e dividimos a despesa de casa e dos filhos; a dependência não é financeira. É psicológica… e muita! Às vezes, estou trabalhando no computador e ele me interrompe várias vezes por motivos desnecessários, como dizer que camisa deve vestir ou onde estão suas meias. Isso sem falar no que tenho que opinar diariamente sobre suas decisões, mesmo as mais simples. Não gostaria de confundi-lo com um dos meus filhos!"

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Ao contrário do que parece, é grande o número de homens que  dependem emocionalmente de suas mulheres, entregando a elas a administração integral da vida e dos próprios desejos. A expressão máxima da submissão do  homem à mulher pode ser ilustrada na cena inacreditável a que assisti, alguns anos atrás, em casa de amigos. Um casal, casado há 30 anos, conversava em grupos separados. Quando foi servido o jantar, todos foram à mesa. E a cada momento, antes de pôr a comida no prato, ele se virava para a esposa e perguntava baixinho: "Julieta, eu gosto?" É claro que a dependência masculina não se mostra necessariamente tão óbvia, se apresentando, na maioria das vezes, de forma bem mais sutil.

Homens e mulheres têm um papel a desempenhar.  Os meninos, para serem aceitos como machos, devem corresponder ao que deles se espera numa sociedade patriarcal — força, sucesso, poder.  Não podem falhar nem sentir medo.  Entretanto, perseguir o ideal masculino gera angústias e tensões, sendo necessário então usar uma máscara de onipotência e independência absoluta. Mas por que tudo isso?

Quando pequeno, o menino tem com a mãe um vínculo intenso, que deve ser rompido precocemente para que ele se desenvolva como homem. Permanecer muito perto da mãe só é permitido às meninas. Para os meninos isso significa ser "filhinho da mamãe". Os amigos e os próprios pais não perdem uma oportunidade de deboche a qualquer manifestação de necessidade da mãe.

O desejo de ser cuidado e acalentado é recalcado. Na vida adulta os homens escondem a necessidade que têm das mulheres mostrando-se autosuficientes. Tentam se convencer de que elas é que precisam deles. Negando, assim, seus próprios impulsos de dependência, se sentem mais fortes.

Contudo, quando o homem se percebe atraído por uma mulher, dois sentimentos contraditórios o assaltam.  Por um lado, o desejo de intimidade, de aprofundar a relação.Por outro, o temor de se ver diante do seu próprio desamparo e do desejo de ser cuidado por uma mulher. Talvez isso explique por que tantos homens que resistem ao casamento, optando por uma vida livre, em um determinado momento se casam e se tornam submissos, dependentes e dominados pela mulher.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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