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Regina Navarro Lins

“Eu e minha mulher não conseguimos conversar; em poucos minutos, brigamos"

Universa

20/04/2020 04h00

"Estamos casados há 15 anos, mas parece que agora nossa relação está péssima. Já tivemos uma vida de cumplicidade e entendimento, só que de uns tempos pra cá não conseguimos mais conversar. Bastam poucos minutos para nos desentendermos. Há dias em que cada um fica no seu canto e mal nos falamos. Estou bem desanimado."

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Não é nada fácil viver assim. Para o historiador inglês Theodore Zeldin o ruído do mundo é feito de silêncios e é muito difícil a verdadeira comunicação entre as pessoas. Parece ser exatamente a situação que o internauta e muitas outras pessoas vivem.

Zeldin defende que precisamos abandonar a etiqueta destrutiva, o jogo fútil das aparências, porque na maior parte dos encontros o orgulho e a cautela ainda impedem as pessoas de falarem o que realmente sentem no íntimo.

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"Toda conversa é um encontro entre espíritos que têm lembranças e hábitos diferentes. Quando os espíritos se encontram, não trocam só fatos, eles se transformam, ganham novas formas, criam um novo encadeamento de ideias. Conversar não é apenas reembaralhar as cartas: é criar novas cartas para o baralho", conclui o historiador.

Há mais ou menos 20 anos, pedagogos americanos começaram a abordar a educação para amar, ou seja, a alfabetização emocional. Uma disciplina pra ajudar os estudantes a aprender maneiras de ser e de se relacionar. Essa educação foi sendo introduzida lentamente no currículo escolar, mas não aqui no Brasil.

Há, por exemplo, escolas que ensinam os alunos de Literatura e História a empatia através do que chamam de "monólogos interiores". Os estudantes são encorajados a pensar a partir da perspectiva dos diferentes personagens na história, na literatura e na vida, ou seja, fazem os alunos refletir.

Outro perfil de escola tem como objetivo elevar o nível da competência emocional e social das crianças, e isso faz parte da educação. Uma escola de ensino médio na Califórnia, nos EUA, estimula dimensões da inteligência quase sempre omitidas: sensibilidade em relação aos outros, intuição, imaginação e conhecimento do corpo. Isso tudo está no currículo.

Para o psicólogo social francês Jacques Salomé a crença quase universal baseada na evidência de um amor único, permanente e sem defeito, entendido e recebido como garantia de felicidade duradoura vai, justamente, levar-nos a esquecer, com muita frequência, que é necessário manter, alimentar e respeitar o relacionamento vivo e saudável. Que este deve, sobretudo, se proteger contra as alterações inevitáveis de uma intimidade que vai ficando desgastada com partilhas em tempo integral.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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