“Eu e minha mulher não conseguimos conversar; em poucos minutos, brigamos"
"Estamos casados há 15 anos, mas parece que agora nossa relação está péssima. Já tivemos uma vida de cumplicidade e entendimento, só que de uns tempos pra cá não conseguimos mais conversar. Bastam poucos minutos para nos desentendermos. Há dias em que cada um fica no seu canto e mal nos falamos. Estou bem desanimado."
***
Não é nada fácil viver assim. Para o historiador inglês Theodore Zeldin o ruído do mundo é feito de silêncios e é muito difícil a verdadeira comunicação entre as pessoas. Parece ser exatamente a situação que o internauta e muitas outras pessoas vivem.
Zeldin defende que precisamos abandonar a etiqueta destrutiva, o jogo fútil das aparências, porque na maior parte dos encontros o orgulho e a cautela ainda impedem as pessoas de falarem o que realmente sentem no íntimo.
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"Toda conversa é um encontro entre espíritos que têm lembranças e hábitos diferentes. Quando os espíritos se encontram, não trocam só fatos, eles se transformam, ganham novas formas, criam um novo encadeamento de ideias. Conversar não é apenas reembaralhar as cartas: é criar novas cartas para o baralho", conclui o historiador.
Há mais ou menos 20 anos, pedagogos americanos começaram a abordar a educação para amar, ou seja, a alfabetização emocional. Uma disciplina pra ajudar os estudantes a aprender maneiras de ser e de se relacionar. Essa educação foi sendo introduzida lentamente no currículo escolar, mas não aqui no Brasil.
Há, por exemplo, escolas que ensinam os alunos de Literatura e História a empatia através do que chamam de "monólogos interiores". Os estudantes são encorajados a pensar a partir da perspectiva dos diferentes personagens na história, na literatura e na vida, ou seja, fazem os alunos refletir.
Outro perfil de escola tem como objetivo elevar o nível da competência emocional e social das crianças, e isso faz parte da educação. Uma escola de ensino médio na Califórnia, nos EUA, estimula dimensões da inteligência quase sempre omitidas: sensibilidade em relação aos outros, intuição, imaginação e conhecimento do corpo. Isso tudo está no currículo.
Para o psicólogo social francês Jacques Salomé a crença quase universal baseada na evidência de um amor único, permanente e sem defeito, entendido e recebido como garantia de felicidade duradoura vai, justamente, levar-nos a esquecer, com muita frequência, que é necessário manter, alimentar e respeitar o relacionamento vivo e saudável. Que este deve, sobretudo, se proteger contra as alterações inevitáveis de uma intimidade que vai ficando desgastada com partilhas em tempo integral.
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