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Regina Navarro Lins

Aumentará a violência doméstica no isolamento do coronavírus?

Universa

21/03/2020 04h00

Ilustração: Caio Borges

A melhor coisa a fazer para evitar que mais gente seja contaminada pelo coronavírus é o isolamento social, ou seja, as pessoas ficarem nas suas casas. Mas me chamou a atenção a seguinte matéria que li em Universa:

ONU alerta: casos de violência doméstica podem aumentar durante isolamento.

Veja também:

Foi lançado o documento "Covid-19 na América Latina e no Caribe: como incorporar mulheres e igualdade de gênero na gestão da resposta à crise", elaborado pela ONU Mulheres. Entre as orientações está o cuidado com as vítimas de violência. De acordo com as informações divulgadas, em contextos emergenciais tal como o desencadeado pela pandemia, aumentam os riscos de violência doméstica contra as mulheres e meninas, uma vez que podem ocorrer mais tensões em casa.

 Isso é preocupante. A mulher sempre foi extremamente maltratada pela violência do homem, considerada banal no lar. No entanto, ela tinha que aguentar e sofrer sem se queixar. Na Idade Média (séculos 5 ao 15), o marido tinha o direito e o dever de punir a esposa e de espancá-la para impedir "mau comportamento" ou para mostrar-lhe que era superior a ela. Até o tamanho do bastão usado para surrá-la tinha uma medida estabelecida. Se não fossem quebrados ossos ou a fisionomia da esposa não ficasse seriamente prejudicada, estava tudo certo.

 A violência doméstica continuou de variadas formas. Foi somente na década de 1970, com as iniciativas das feministas, que se começou a estudar o impacto da violência conjugal sobre as mulheres. Mesmo assim muitas continuam sendo agredidas por seus maridos ou companheiros.

 A psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen, que estudou profundamente o tema, diz: "Embora as consequências da violência física sejam mais facilmente percebidas, as mais graves são as psicológicas. As marcas de uma agressão física desaparecem, ao passo que as ofensas, as humilhações deixam marcas indeléveis. Por essa razão, para ajudar as mulheres é essencial levar em conta todos os aspectos da violência, e não apenas a violência física."

Para Marie-France, a violência psicológica trata-se de um maltrato muito sutil: muitas vezes as vítimas dizem que o medo começa com um olhar de desprezo, uma palavra humilhante, um tom ameaçador. Trata-se de, sem desferir qualquer golpe, causar um mal-estar no parceiro ou parceira, de criar uma tensão, de amedrontá-lo, a fim de mostrar o próprio poder. Há, evidentemente, um grande prazer em dominar o outro com um simples olhar ou uma mudança no tom de voz. Quanto mais frequentes e mais graves as agressões, menos a mulher tem meios psicológicos de se defender.

Os efeitos da violência conjugal são devastadores para a saúde física e mental das mulheres e de seus filhos. Acredito que só haverá mudança nesse tipo de relacionamento entre homem e mulher quando cada vez mais todos se unirem para se livrar dessa mentalidade patriarcal, que prejudica a ambos os sexos. O apoio de homens e mulheres às lutas feministas por respeito e igualdade de direitos é um bom começo.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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