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Regina Navarro Lins

Por que está cada vez mais difícil continuarmos casados?

Universa

19/03/2020 04h00

Não são poucas as mulheres solteiras, com mais de 35 anos, que lamentam nunca terem se casado. A ansiedade para encontrar um par amoroso fixo e estável é constante. Na nossa cultura se acredita que só é possível estar bem vivendo uma relação amorosa, e é comum se buscar no casamento realização afetiva e prazer sexual. Mas não foi sempre assim.

Na Idade Média o casamento era considerado algo muito sério para que dele fizesse parte o amor, que não era nem cogitado. A partir do final do século 18, o amor no casamento passou a ser uma possibilidade e no século 20 tornou-se tão valorizado que é difícil imaginá-lo como inovação recente.

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Na primeira metade do século 20, uma mulher se considerava feliz se seu marido não deixasse faltar nada em casa e fizesse todos se sentirem protegidos. Para o homem, a boa esposa seria aquela que cuidasse bem da casa e dos filhos e, mais que tudo, mantivesse sua sexualidade contida. As mudanças começaram a ocorrer mais claramente após a década de 40. O casamento por amor passou a ser sinônimo de felicidade e, por conseguinte, uma meta a ser alcançada por todos.

Da mesma forma que antes era inadmissível casar por amor, surge uma crítica severa a quem se casa sem amor. Entretanto, a modificação radical dos costumes se inicia na década de 60, com o advento da pílula anticoncepcional. A mulher reivindica o direito de fazer do seu corpo o que bem quiser, e assim a sexualidade se dissocia pela primeira vez da procriação.

O modelo de casamento romântico, para a vida toda, em que deve ser alcançada a complementação total entre os parceiros, passa a ser questionado.

E agora, a quantas anda o casamento? Tudo indica que se torna cada vez mais difícil permanecer casado. A autorrealização das potencialidades individuais passa a ter outra importância, colocando a vida conjugal em novos termos. Acredita-se cada vez menos que a união de duas pessoas deva exigir sacrifícios.

Observa-se uma tendência a não se desejar mais pagar qualquer preço apenas para ter alguém ao lado. É necessário que o outro enriqueça a relação, acrescente algo novo, possibilite o crescimento individual.

Não é nada fácil harmonizar a aspiração de individuação com o casamento, mas homens e mulheres estão cada vez menos dispostos a sacrificar seus projetos pessoais. Portanto, é provável que, do ponto de vista afetivo-sexual, o grande conflito que se vive neste momento se situe entre o desejo de simbiose – fusão com o outro – e o desejo de liberdade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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