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Regina Navarro Lins

Precisamos falar da vida sexual de homens e mulheres depois dos 70  

Universa

05/03/2020 04h00

Quando um homem de mais de 70 anos fica viúvo, o enterro de sua esposa é concorridíssimo. Mulheres viúvas, separadas ou solteiras tentam chegar primeiro para consolá-lo e, quem sabe, a partir daí, iniciar um romance.  Nem é necessário conhecê-lo bem. Basta ser o primo da cunhada da vizinha, que já é suficiente.

Várias pessoas me juraram que essa história é verdadeira e que acontece com certa frequência. Pode até ser, não sei. Mas, na realidade, pesquisas mostram que o período máximo que um viúvo fica sozinho não passa de um ano. E isso ocorre porque existe muito mais mulher disponível para o casamento do que homem. A mulher, além de viver mais, há algumas décadas só se casava com homens bem mais velhos.

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O sexo era feito no escuro, às vezes debaixo das cobertas, e era comum as mulheres nunca permitirem que seus maridos as vissem nuas. E sendo assim, o orgasmo feminino nem era cogitado. O homem, por sua vez, tinha obrigação de sustentar e proteger a família. Mas do ponto de vista sexual, o desempenho da maioria era desastroso.

Casavam sem experiência alguma ou, no máximo, com uma ou outra relação anterior com prostituta. Acrescente-se a isso a total desinformação da época e também a dificuldade em conciliar sexo, considerado impuro, com a pureza que eles esperavam da futura mãe de seus filhos.

Os principais estudos sobre sexualidade confirmaram não existir limite de idade para o exercício da sexualidade. Entretanto, todos os preconceitos que se tem contra a velhice — acredita-se que as pessoas mais velhas sejam improdutivas, senis, incapazes de mudanças — faz com que os idosos sejam considerados assexuados, como se sexo e juventude fossem sinônimos. Assim, o homem estaria condenado à impotência e a mulher, depois da menopausa, não se interessaria mais pelo assunto.

Quando se vê um casal de velhos caminhando juntos, admira-se o carinho e o companheirismo, mas é difícil alguém imaginá-los juntos na cama, em atividade sexual. Com toda essa pressão social, os velhos acabam se convencendo de que já passaram da idade, que sexo não é mais para eles. É fundamental, portanto, que compreendam o que acontece com seus corpos, para se adaptar às mudanças na fisiologia da resposta sexual e preservar o direito de ter sexo sem medo e com prazer.

Não é difícil imaginar que o aumento da longevidade, aliado aos avanços da medicina e a novas técnicas de reposição hormonal para a mulher e medicamentos para manter a ereção do homem, conduz ao desenvolvimento de uma nova mentalidade quanto ao sexo praticado por pessoas idosas, até aquelas com bem mais de 70 anos.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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