Topo

Regina Navarro Lins

O amor romântico começa a perder espaço nas relações; ainda bem!

Universa

29/02/2020 04h00

Li no blog da Morango, aqui em Universa, que o Coletivo AbrAce define "arromanticidade" como um movimento de pessoas que não sentem, seja de forma total ou parcial, atração romântica por outras pessoas.

"Os arromânticos (ou apenas aros), não têm vontade ou necessidade de estar em uma relação romântica ou participar de atividades românticas com outras pessoas – o que muitas vezes faz com que sejam vistos como frios, incapazes de afeto ou 'predadores'. A verdade é que não sentindo atração romântica, sentem pouco ou pouquíssimo desejo de estar ou desenvolver relações românticas", diz o Coletivo

O amor é uma construção social, que em cada período da História se apresenta de uma forma. Mas somos tão condicionados a acreditar que o amor romântico é a única forma de amor, que questioná-lo faz com que a pessoa seja vista como fria e incapaz de amar.

Veja também:

O amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico — ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos, determinando como devem sentir e reagir. Ele não é construído na relação com a pessoa real, e sim sobre a idealização que se faz dela.

A partir daí, surgem crenças equivocadas como: quem ama não sente tesão por mais ninguém; o amado deve ser a única fonte de interesse; todos devem encontrar um dia a "pessoa certa. Mas por mais encantamento que cause num primeiro momento, ele se torna opressivo por se opor à nossa individualidade.

Não há dúvida de que desejar viver relações de amor fora do modelo romântico pode ser frustrante. As pessoas são viciadas nesse tipo de amor e fica difícil encontrar parceiros que já tenham se libertado dele. Mas acredito ser apenas uma questão de tempo. As mudanças são lentas e graduais, mas definitivas nesse caso.

Bonnie Kreps, cineasta canadense que escreveu um livro sobre o tema, diz que deixar o hábito de "apaixonar-se loucamente" para a novidade de entrar num tipo de amor sem projeções e idealizações também tem sua própria excitação. É a mesma sensação de utilizar novos músculos, que sempre tivemos, mas nunca usamos por causa de nosso modo de vida. No entanto, ao começar a utilizá-los podemos fazer com nosso corpo coisas que antes nunca conseguimos.

Para ela, os músculos psicológicos também existem e devemos olhar através da camuflagem do mito do amor romântico a fim de encontrá-los — e, então, ver com o que se parecerá o amor quando mais pessoas começarem a flexioná-los.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro