Medo de ficar só? Existe tanta solidão entre casados quanto entre solteiros
Há algumas semanas, ouvi no consultório uma mulher de 35 anos dizer que quer muito se casar por temer a solidão na velhice. Lembrei-me então do que me disse, há alguns anos, a escritora Marina Colasanti: "Um dos elementos que causam a solidão dentro do casamento é que as pessoas evoluem em direções tão opostas que de repente uma não tem nada mais a ver com a outra. Podem se afastar quando um dos dois se volta muito para si. Isso é comum acontecer com os velhos."
Regidos pelo amor romântico, fomos levados a acreditar que com o casamento as pessoas alcançarão uma complementação total, que os dois se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro.
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O problema é que em pouco tempo essas expectativas se mostram incompatíveis com a realidade, e as frustrações vão se acumulando. Na busca de segurança afetiva, qualquer preço é pago para evitar tensões decorrentes de uma vida autônoma. Por medo da solidão, as pessoas suportam o insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo.
O historiador inglês Theodore Zeldin afirma que o medo da solidão assemelha-se a uma bola e uma corrente que, atados a um pé, restringem a ambição, e são um obstáculo à vida plena, tal e qual a perseguição, a discriminação e a pobreza. Se a corrente não for quebrada, para muitos a liberdade continuará um pesadelo.
Segundo ele, a crença mais gasta, pronta para a lixeira, é que os casais não têm em quem confiar salvo neles próprios, o que é tão infundado quanto a crença de que a sociedade condena os indivíduos à solidão. Na realidade, existe tanta solidão entre os casados quanto entre os solteiros.
Não há dúvida de que o medo da solidão é responsável por muitas opções equivocadas de vida. O psicoterapeuta e escritor Roberto Freire não tem dúvida de que risco é sinônimo de liberdade e que o máximo de segurança é a escravidão. Ele acredita que a saída é vivermos o presente através das coisas que nos dão prazer.
A questão, diz ele, é que temos medo, os riscos são grandes e nossa incompetência para a aventura nos paralisa. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção.
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