Como o telefone e o automóvel mudaram as relações amorosas
No início do século 20, o telefone e o automóvel provocaram grandes mudanças. Mas como sempre ocorre com qualquer novidade, os conservadores reagiram. Nos Estados Unidos, B.S. Steadwell, da Federação Mundial da Pureza se indignou, a partir de 1913, com o telefone, que foi visto como algo indecente.
Outros alertaram para os perigos da voz de um homem no ouvido das moças. E.S.Turner em sua "História da Sedução" escreve: "Uma jovem na cama pode ouvir a voz de seu bem-amado, junto ao travesseiro, com um tremor voluptuoso, que seria considerado bem indecente na época vitoriana. O homem pode muito bem estar em uma cabine telefônica, mas sua voz será suficiente para levar sua imagem para aquele travesseiro".
Veja também:
- "Nunca tive orgasmo e tenho me sentido menos mulher por isso"
- A mulher se frustra quando o homem broxa?
- 8 coisas que você precisa saber antes de encarar um ménage
O automóvel é visto como muito mais perigoso. Desde 1902, os anúncios diziam "Para se divertir é preciso uma namorada e um carro". Nos anos 20 um carro era "um pecado sobre quatro rodas", o meio mais simples de escapar dos olhares e da pressão social. Sexo e carro estão definitivamente ligados no imaginário americano.
A partir da década de 1920, com o advento do telefone e do automóvel, uma revolução técnica do namoro se tornou possível. Ela se baseou na invenção espontânea do encontro marcado: foi esse o novo mecanismo mais expressivo de seleção de companhia, durante muito tempo.
Em lugar do encontro na igreja, da conversa preliminar com o pai, e das tardes muito bem vigiadas na sala de visitas da família, a juventude da época encontra-se em recepções, marca encontros pelo telefone, e sai a passeio a sós, de carro, para passar suas noites no cinema, em salões de baile e em estradas afastadas.
"Contudo, os dispositivos mecânicos, embora essenciais para a efetivação dos novos padrões não os criaram, foram absorvidos por eles, porque eram profundamente necessários. A sociedade elaborou o novo processo porque foi obrigada a isso; a juventude exigiu, com urgência, um novo recurso para se desenvolver e se transformar em pessoas casadouras através da experiência social, e também através de uma exposição nova, mais ampla, a possíveis companheiros, a fim de tornar menos arriscado o processo de se apaixonar.", diz o historiador Morton Hunt.
Até 1945, o objetivo do encontro era sair com o maior número possível de pessoas: quanto mais requisitada a pessoa, tanto melhor. Para o historiador inglês Theodore Zeldin, o "encontro" parecia ser o método democrático de encontrar a confiança própria: era uma espécie de voto, uma eleição perpétua. Em vez de se preocupar com um amor ilusório, os moços provavam um ao outro que eram muito populares conforme o desempenho na competição.
Além disso, o "encontro" libertou os jovens da tutela dos pais, já que envolvia a saída para lugares de divertimento público, escapando assim à supervisão direta no lar. Era importante que houvesse uma série de tentativas de escolhas para poder optar por uma delas.
Zeldin pergunta até que ponto seria privilégio masculino tomar a iniciativa, quando uma mulher no colégio convidava um homem para dançar sábado à noite, "e ele a interrompia no meio da frase afastando-s?". As mulheres tinham o privilégio de decidir a quem aceitar e quem pretendiam colocar na agenda. Na Universidade de Michigan, nos EUA, as estudantes classificavam os homens de acordo com a sua estimativa nos encontros: "A – suave; B – no ponto; C – sem lenço nem documento; D – meio estúpido; E – fantasma."
Entretanto, as críticas feitas ao encontro marcado deixavam claro o medo de que a geração mais nova estivesse se transformando em sexualmente descontrolada. Acredito ser importante conhecermos como as pessoas pensavam e viviam. Isso ajuda a perceber que as relações amorosas poderão ser totalmente diferentes daqui a algum tempo.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.