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Regina Navarro Lins

A menstruação e a inquietação dos homens com o corpo feminino

Universa

08/02/2020 04h00

Na Índia há muita desinformação sobre a menstruação, e falar do assunto causa constrangimento. Instituições indianas criaram então o "Feliz dia da Menstruação", para tirar o estigma sobre o tema na sociedade indiana.

Em várias culturas o sangue ocupa lugar especial entre as interdições. O médico holandês Levinus Lemnius (1505-1568), autor de uma obra bem conhecida na Europa, afirma que o homem cheira bem naturalmente, ao contrário da mulher: "A mulher abunda em excrementos, e por causa de suas flores (menstruação) ela exala mau cheiro, também ela piora todas as coisas e destrói suas forças e faculdades naturais."

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Ele acredita que o contato com o sangue menstrual destrói as flores e os frutos, amolece o marfim, faz o ferro perder o corte, enraivece os cães, provoca a fuga das abelhas, o aborto das éguas, a esterilidade das asnas. Para o Dr. Lemnius, o cheiro feminino é resultado do frio e da umidade próprias desse sexo, ao passo que "o calor natural do homem é vaporoso, doce e suave, e quase embebido por algum aroma".

Ao contrário do homem, a mulher não cheira bem de jeito nenhum, segundo sua visão. O odor que ela exala é tão desagradável que a sua aproximação faz secar, sujar e escurecer a noz-moscada. O coral empalidece a seu contato, ao passo que se torna mais vermelho em contato com o homem.

Antes dele, gregos e romanos condenavam o ato sexual com mulheres menstruadas. Mais, eles acreditavam que o contato delas cegaria o fio de uma faca ou azedaria o vinho, ou ainda, se um cão lambesse aquele sangue contrairia hidrofobia. Não é difícil de perceber por que esses mitos se sustentavam. A função biológica da menstruação era desconhecida até bem pouco tempo.

As mulheres sofreram o que nunca saberemos, em função de sua natureza e da repercussão familiar e social de seu sangramento. Elas mesmas alimentaram profundos preconceitos com o seu corpo, e há registro de como muitas se julgaram amaldiçoadas, feiticeiras, tomadas pelo demônio, abandonando família e grupo social para recolherem-se ao exílio e à morte.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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