"Tudo vai bem na minha vida. Por que me sinto entediada?"
"A questão central de minha vida é descobrir o que me falta, já que não me falta nada. Sou amada pela minha família e por meu marido, meus filhos são ótimos, não temos problemas complexos, difíceis de resolver, as minhas perspectivas profissionais são muito boas… O que me faz ser uma pessoa insatisfeita, entediada? Eu não sei, mas sou."
***
A promessa fraudulenta de ausência de dificuldades pode gerar a deterioração da saúde mental. Num estudo sobre a relação entre a depressão e o amor romântico, o psiquiatra italiano Silvano Arieti concluiu que as mulheres casadas sofrem mais de depressão do que os homens na proporção de dois para um.
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Nas outras categorias — solteiras, divorciadas e viúvas — as mulheres têm taxas mais baixas que os homens. Ele afirma que entre os fatores sócio culturais que estão por trás da depressão feminina se encontra o fato de que o objetivo dominante para muitas mulheres não é a busca de um "eu" autêntico, mas a busca do amor romântico.
Algumas pessoas alegam que hoje ninguém tem paciência, que por vivermos numa sociedade de consumo, onde tudo é descartável, o cônjuge também deve ser sempre substituído. Mas a questão não é essa.
O suíço Denis de Rougemont, profundo estudioso do amor, afirma que somos educados para o casamento, mas ao mesmo tempo somos incentivados ao romantismo. Ele diz: "Ora, a paixão e o casamento são por essência incompatíveis. Sua origem e seus objetivos são excludentes. Sua coexistência faz surgir em nossas vidas problemas insolúveis e esse conflito ameaça sempre nossa segurança social".
O mito do amor romântico não passa de uma mentira, porque mente sobre as mulheres e os homens e mente sobre o amor. Além de mentir que o verdadeiro amor dura para sempre, o mito exclui o conflito, a discórdia e também o tédio causado pela rotina e pela convivência afetiva íntima e fechada com uma única pessoa.
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