Cultura brasileira estimula a culpa da menina quando o desejo desperta
O rapper americano T.I. causou polêmica ao anunciar que leva a filha, uma vez por ano, ao ginecologista para "verificar seu hímen", e que o médico lhe entrega o resultado rapidamente. A deputada democrata do Estado de Nova York, Michaelle Solages, diz estar pressionando pelo projeto de lei para erradicar a prática. Assim, seria proibida a verificação se o hímen de uma mulher foi rompido a fim de determinar se ela teve relações sexuais.
Em 2017, em São Paulo, um pai que espancou a filha de 13 anos com um fio elétrico após descobrir que a adolescente tinha perdido a virgindade com o namorado foi inocentado. Para o juiz o progenitor quis apenas corrigir a garota. Os golpes deferidos com o cabo de uma TV geraram oito lesões de até 22 centímetros nas costas da vítima.
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A Promotora de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo e uma das maiores ativistas de causas femininas, Gabriela Manssur vê como retrocesso a atitude do juiz Leandro Jorge e defende que a sentença favorável ao agressor corrobora com a ideia inaceitável de culpabilização da vítima.
Mas a violência pela ausência da virgindade da mulher tem uma história. Com o sistema patriarcal, surgido há cinco mil anos, a sexualidade feminina passou a ser controlada para garantir a paternidade, além do fato de que uma virgem era uma mercadoria valiosa. Recatada, daria ao homem filhos legítimos que lhe assegurariam a futura mão de obra.
Um homem que fizesse sexo com uma moça solteira e virgem, se descoberto, deveria ressarcir o pai da moça em dinheiro. Quando havia a exigência legal de que ele desposasse a moça, o único objetivo era proteger a economia masculina. A jovem se tornou mercadoria sem valor e não seria justo sobrecarregar o pai com ela, e o homem que causou a perda deveria adquiri-la.
Não há dúvida de que os preconceitos diminuíram bastante e o número de moças que chegam virgens ao casamento é cada vez menor. Mas a expectativa do prazer continua a ser mais complicada para as moças do que para os rapazes. A nossa cultura estimula a culpa da menina quando percebe o despertar de seus desejos sexuais.
A repressão é tão grande, embora muitas vezes sutil, que elas se tornam amedrontadas e inseguras. São tantos os conselhos e advertências quanto aos perigos que podem estar envolvidos, que em raros casos o sexo é vivido com tranquilidade e prazer.
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