"Meu marido saiu de casa. Agora eu alterno entre ódio e desespero"
"Estamos casados há 12 anos e não temos filhos. Sempre achei que vivíamos bem. Tínhamos algumas brigas e o sexo estava meio morno. Mas jamais pensei que meu marido proporia a separação, como fez agora. Ele disse que é irreversível e já saiu de casa. Nem sei onde está morando. Estou péssima, alternando entre o ódio que sinto dele e o meu desespero pela sua ausência."
***
"Deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa…" Há separações em que a hostilidade e o ódio pelo outro chegam a níveis extremos. Parece ser um sentimento de ter sido traído na crença de que por meio daquela relação amorosa se estaria a salvo do desamparo, encontrando a mesma satisfação que havia no útero da mãe, quando dois eram um só.
Veja também
A separação surge então como testemunho da impossibilidade desse retorno ao estado de fusão, a essa identidade que se busca no outro. O parceiro, imagina-se, preenchia uma falta. O ressentimento, a raiva e o ódio são causados pela constatação de que ao ir embora o outro deixou uma lacuna, frustrando a expectativa de se complementarem.
Quando fracassa o projeto amoroso, a pessoa perde o referencial na vida e sua autoestima fica abalada. A questão é que no Ocidente somos incentivados, desde muito cedo, a acreditar só ser possível encontrar a realização afetiva através da relação amorosa fixa e estável com uma única pessoa.
Na maioria dos casamentos as pessoas abrem mão da liberdade e da independência — incluindo aí amigos e interesses pessoais — e por isso se tornam mais frágeis em caso de separação. O desespero que se observa em algumas pessoas durante e após a separação se deve também ao fato de cada experiência de perda reeditar vivências de perdas anteriores.
Assim, não se chora somente a separação daquele momento, mas também todas as situações de desamparo vividas algum dia e que ficaram inconscientes. Acredito que a condição essencial para ficar bem sozinho seja o exercício da autonomia pessoal. Isso significa, além de alcançar nova visão do amor e do sexo, se libertar da dependência amorosa exclusiva e "salvadora" de alguém.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.