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Regina Navarro Lins

"Eu dizia que meu casamento era ótimo. Agora, vejo como tentei me enganar"

Regina Navarro Lins

03/06/2019 04h00

Ilustração: Caio Borges

"Casei aos 18 anos com um homem dez anos mais velho. Nos primeiros meses, eu ainda era tratada com muitas atenções e cuidados, mas logo o encanto começou a se desfazer. Meu marido não conseguia mais esconder seu egoísmo e o pouco caso que fazia dos meus sentimentos. Tivemos dois filhos, que ele praticamente ignorava. Só pensava em seu trabalho e nas atividades de lazer que o interessavam. Agora, vejo como tentei me enganar. Eu sofria e não conseguia enxergar. Durante muito tempo, eu disse para meus familiares e amigos que meu casamento era ótimo, que ele sempre esteve preocupado comigo e com as crianças, um pai fantástico e um marido supercarinhoso. Ele nunca foi nada disso e sinto muita raiva!"

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Muitos buscam a estabilidade e segurança afetiva numa relação, e para isso pagam qualquer preço. As frustrações geram sofrimento, mas não é raro se negar o que está ocorrendo para manter a fantasia do par amoroso idealizado. Quanto mais concessões são feitas para se manter o casamento, mais hostilidade vai surgindo em relação ao outro. Hostilidade, na maioria das vezes inconsciente, que vai minando gradativamente a relação até torná-la insustentável.

O esforço para corresponder às expectativas depositadas no casamento pode superar o limite da capacidade de conceder e fazer a pessoa optar pelo fim da relação. Em outros casos, o tédio e a monotonia da vida a dois, em função da dependência emocional que se tem do outro, pode levar a uma atitude de resignação e acomodação.

Há alguns anos, atendi durante seis meses um grupo de dez mulheres, que se reuniam por uma questão específica: a solidão. As idades variavam de 35 a 55 anos. Oito eram casadas, uma separada e uma viúva. Apesar de expressarem o desejo de um companheiro estável, ficou evidente como as vidas das que viviam sozinhas eram mais interessantes e cheias de possibilidades em comparação com as das mulheres casadas.

Estas se mostravam desesperançadas, sentiam-se impotentes para tentar qualquer transformação que pudesse lhes proporcionar algum prazer no plano afetivo e sexual. A monotonia do dia a dia, a falta de diálogo com o marido e a ausência de uma vida sexual satisfatória eram a tônica de suas queixas.

Acredito que um casamento pode ser ótimo. Mas para isso as pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois, como, por exemplo, a ideia de que os dois vão se transformar num só; a crença de que um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro; não poder ter nenhum interesse em que o amado não faça parte; o controle de qualquer aspecto da vida do outro.

É fundamental que haja respeito total ao outro, ao seu jeito de pensar e de ser e às suas escolhas; liberdade de ir e vir, ter amigos em separado e programas independentes. Caso contrário, a maioria das relações, com o tempo, se tornam sufocantes.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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