No amor, distância impede vínculo e excesso de união elimina independência
O amor se baseia em dois pilares: entrega e autonomia. Ao mesmo tempo que temos necessidade de união com o outro também temos necessidade de distanciamento. Com excesso de distância, não pode haver vínculo. Mas o excesso de união elimina a independência.
"Então nada mais resta a transcender, não há ponte para se atravessar, ninguém para se visitar do outro lado, nenhum outro mundo interno onde entrar. Quando as pessoas se fundem, quando dois viram um, não há com quem estabelecer uma ligação. Assim, o distanciamento é uma precondição da ligação: este é o paradoxo essencial da intimidade e do sexo.", diz a terapeuta de casal belga, radicada em Nova York, Esther Perel.
Há necessidades contraditórias, e muitas vezes conflitantes, de se fechar na relação com o outro e de independência. Ao contrário de quem idealiza o amor romântico e o próprio par amoroso, não é difícil observar pessoas que amam o parceiro, têm uma vida sexual satisfatória, mas lamentam não ter liberdade de fazer o que quiser da própria vida.
Esther Perel faz uma interessante análise dessa questão, da qual selecionei os trechos a seguir. Alguns de nós entram numa ligação íntima profundamente conscientes da necessidade de união, de estar junto, de não estar só, de não ser abandonado.
Outros chegam à relação com um grande necessidade de espaço pessoal — nossa noção de defesa nos leva a tomar cuidado para não nos deixar engolir. A ligação erótica e emocional cria uma proximidade que pode ser perturbadora, quase claustrofóbica. Pode dar a sensação de invasão. O cercado que inicialmente dava segurança, agora pode asfixiar.
A autenticidade e a espontaneidade do início não leva o casal a prever a ambivalência do amor que virá depois. Do ponto em que estavam, a intimidade era simples. Abrir-se, revelar, compartilhar, tornar-se transparente, abrir-se mais.
Na verdade, a intensa união física e emocional que sentem só é possível com alguém ainda desconhecido. Nesse estado inicial, ainda é relativamente seguro fundir-se e entregar-se, porque as fronteiras entre as duas pessoas ainda são definidas externamente. Os dois são novos um para o outro.
E enquanto não se instalaram plenamente um no mundo do outro, ainda são duas entidades distintas. É o espaço que há entre eles que lhes permite imaginar que não existe espaço nenhum. Eles ainda estão empolgados pelo encontro e ainda não consolidaram a relação. Não é preciso cultivar a distância nos estágios iniciais do apaixonamento; os dois ainda são pessoas bem distintas.
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