Topo

Regina Navarro Lins

Como a nudez se tornou obscena na história

Universa

04/05/2019 04h00

(Foto: Arquivo Pessoal)

No próximo dia 25, em um sítio no interior de São Paulo, haverá o primeiro casamento naturista católico no Brasil. Os noivos são praticantes do naturismo já há bastante tempo e o casamento será em evento organizado pelo grupo Nós Naturistas – que congrega adeptos do naturismo e dissemina valores dessa filosofia de vida. Noivos e convidados estarão nus.

Muitos se chocam com essa notícia. Mas nem sempre a nudez foi tabu. Na Antiguidade a nudez era percebida de forma bem diferente da nossa. O conceito de obscenidade era desconhecido. Muitas vezes as imagens dos órgãos sexuais masculinos e femininos eram exageradas, mas vistas com naturalidade. Muitos santuários espalhados pelo mundo mostram representações de vulvas e falos, inclusive com deuses possuidores de falos monumentais.

Mas isso mudou. São Jerônimo (347 – 420), alguns séculos depois, afirmou que uma virgem adulta jamais devia banhar-se e, na verdade, devia envergonhar-se de ver sua própria nudez. Na Idade Média, mesmo no casamento, o nu coloca a pessoa numa situação perigosa. A representação de cônjuges nus em um leito pode ser percebida como um sinal de luxúria.

No século 19, na Inglaterra, a nudez total, por ocasião do dever conjugal, é considerada o cúmulo da obscenidade. Era comum os casais jamais terem se visto sem roupa. Há registros de camisolas com furos na altura da vagina por onde o homem penetrava a mulher. Francisco I, rei das Duas Sicílias ao visitar a exposição do Museu Nacional, em 1819, com sua esposa e filha, ficou tão envergonhado com o nu de algumas obras de arte que decidiu escondê-las numa câmara secreta, acessível apenas a pessoas de idade mais avançada e "consciência moral".

No século 20, a descoberta do corpo está diretamente ligada ao progresso da higiene íntima. Mesmo assim as pessoas ainda não ousavam se mostrar nuas. Entre as duas guerras, as proibições da Igreja e da medicina perdem a força. Quando as mulheres começaram a usar maiôs e a andar de bicicleta, o corpo foi aos poucos se revelando.

Entretanto, a mudança de mentalidade não ocorre ao mesmo tempo para todos. Há casos de repressão à nudez e situações que mostram a aceitação cada vez maior do corpo nu como algo natural.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro