"Transei com três homens na mesma semana. Será que sou ninfomaníaca?"
"Tenho 35 anos e estou sem namorado. Isso não me preocupa, porque adoro sexo e não tenho preconceito algum. Transo com alguns amigos e fico satisfeita. Mas estou preocupada. O fato de ter transado com três homens diferentes numa mesma semana fez com que uma amiga dissesse que sou insaciável. Será que sou ninfomaníaca?"
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Muitas mulheres que fazem sexo livremente sofreram durante muito tempo, acusadas de ninfomania. A seguir, algumas observações da historiadora americana Carol Groneman, que pesquisou e escreveu um livro sobre o tema.
O médico grego Galeno, no século II, por exemplo, acreditava que a fúria uterina ocorria particularmente entre jovens viúvas, cuja perda da satisfação sexual podia levá-las à loucura. Com base na teoria de que os humores do corpo deviam ser mantidos em equilíbrio, textos médicos gregos antigos presumiam que as mulheres, porque seus humores eram frescos e úmidos, necessitavam do intercurso sexual para abrir, aquecer e drenar o sangue.
Isso levava a um desejo insaciável de sêmen por parte das mulheres; o que resultou, diante de sua capacidade menor para controlar esses desejos, na convicção de que as mulheres tinham mais desejo que os homens. As ideias médicas sobre a insaciabilidade sexual das mulheres, combinadas com o legado religioso que considerava Eva como sedutora, permaneceram essencialmente intactas até o século 18. Nessa ocasião, começou a ocorrer uma mudança drástica na compreensão da sexualidade feminina.
Uma onda de fervor moral varreu os EUA, reforçando esse período de grande mudança. Ministros evangélicos conclamaram as mulheres a proporcionar um modelo de pureza para ambos os sexos. O ideal feminino de "ausência de desejo" permitia que as mulheres reivindicassem uma posição moral superior.
Ao mesmo tempo, o novo ideal feminino também as instalava firmemente num pedestal. Elas deveriam domar as paixões dos homens e manter a pureza do lar, sem participar do mundo público de trabalho e política. Os médicos avaliaram que as mulheres tinham um sistema nervoso muito delicado, "doença mensal" e cérebro menor, além de órgãos reprodutivos também menores; tudo isso fazia com que fosse insalubre para elas votar, trabalhar fora de casa, escrever livros, ir para a universidade, ou participar de debate público.
Muitas teorias médicas diferentes tentavam explicar as causas da ninfomania: nervos esgotados, inflamação no cérebro, lesões na coluna, cabeça deformada, além de genitália irritada e clitóris ampliado. Achavam também que a ninfomania se relacionava com a indulgência e excesso sexual, o desejo sexual não controlado pela vontade, a disposição para sucumbir à tentação.
O primeiro estudo mais amplo da doença — Ninfomania, ou Uma Dissertação sobre o Furor Uterino — escrito por um obscuro médico francês, T. Bienville, em 1775, enfatizava que comer alimentos muito condimentados, consumir chocolate demais, acalentar pensamentos impuros, ler romances ou se masturbar estimulavam demais as delicadas fibras nervosas das mulheres, levando à ninfomania.
De acordo com o pesquisador Alfred Kinsey, ninfomaníaca é "alguém que quer mais sexo do que você". O que ele quis dizer foi que a conduta sexual feminina excessiva está no centro das atenções. O que é "excessivo" é determinado por regras da época.
"'Ninfomania' como doença orgânica ou distúrbio psicológico diagnosticável, com sintomas cientificamente definidos, não existe. As mulheres precisam entender as várias formas como a ninfomania e outros conceitos têm sido usados para rotular e controlar a sexualidade feminina. São conceitos perigosos, que precisam ser desafiados e alterados", conclui Carol Groneman.
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