Separação e superação
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta que que descobriu que o marido está apaixonado por outra há dois anos, quando às 7h da manhã foi ao banheiro e viu que ele esqueceu o celular. Viu então a mensagem dele para uma mulher 30 anos mais jovem, aluna dela. Ela o pôs pra fora de casa, mas ele insiste em voltar. Ela pergunta: "Como voltar a dormir ao lado de um homem que levanta as 7h da manha da minha cama e manda mensagens de amor para outra?"
"Evitar a dor é impossível, evitar esse amor é muito mais. Você arruinou a minha vida me deixe em paz."
"Meu mundo caiu e me fez ficar assim."
"Você está vendo só do jeito que eu fiquei e que tudo ficou."
"Risque meu nome do seu caderno, pois não suporto o inferno do nosso amor fracassado."
"Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor."
A poesia da musica popular, como nos exemplos acima, trata da dor de amor como drama doloroso, agravado principalmente pela expectativa romântica de "até que a morte nos separe".
Fomos ensinados a acreditar que apenas o parceiro amoroso é capaz de nos garantir não estar só, de ser amado e de nos sentirmos uma pessoa importante, aumentando nossa autoestima.
Deixar de ser amado é fonte de profunda angustia e tristeza. Ainda mais quando a causa do rompimento é a paixão por outra pessoa. Quando o parceiro prefere outro alguém para viver ao seu lado, quem é excluído se sente profundamente desvalorizado.
O adulto quando perde o objeto de seu amor age como uma criança pequena abandonada pela mãe, se sente perdido, sem rumo… Há inúmeras questões para afligi-lo, mas a maior de todas é o medo de não voltar a ser amado.
Embora o casamento não seja o único meio de atenuar o desamparo humano — outras relações cumprem essa função: amizades profundas, participação em grupos que têm ideais em comum, projetos pessoais interessantes, etc… —, é a que a sociedade mais privilegia.
Na contramão dessa análise, o psicólogo italiano Edoardo Giusti, após quatro anos de pesquisas e estudos acerca da separação de casais, afirma que é certamente uma novidade para nossa cultura, centrada no sacrifício e na abnegação, poder evidenciar o alívio muitas vezes sentido ao término de uma união. E até se identifica um certo entusiasmo quando uma separação é vivida como nova oportunidade de crescimento e de desenvolvimento pessoal.
Um resumo de alguns dados dessa pesquisa é interessante. Por exemplo, ela conclui que pessoas que tiveram uma educação conservadora, uma vida em comum caseira, com poucas saídas e amigos, uma personalidade rígida e introvertida, sofrem mais na separação do que aqueles que possuem autonomia, uma vida social fora do lar e uma educação mais liberal. A pesquisa também concluiu que filhos e dependência econômica agravam a dor da separação.
Como vivemos numa época em que cada um busca desenvolver ao máximo suas possibilidades pessoais e sua individualidade, a dor da separação é, portanto, bem menor do que há 40 anos.
Concordo com a psicóloga Purificacion Garcia Gomes quando diz: "Nesse sentido, vê-se nas pessoas que se separam nas últimas décadas, a consciência da necessidade de reconstruir sua identidade, de restabelecer novos propósitos de vida. Não cabe mais chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objeto a ser realizado e vivido."
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