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Regina Navarro Lins

Prazer entre mulheres

Regina Navarro Lins

01/04/2017 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta, casada há 15 anos, que no trabalho começou a se aproximar muito de uma colega, casada há 25 anos. Um dia se beijaram na boca e começaram a se envolver ainda mais. A colega se declarou dizendo que a ama loucamente e quer morar com ela. A internauta diz não saber que sentimento tem por ela e também não saber mais o que sente pelo marido. Diz estar muito confusa sem saber o que fazer.

Muitos se chocam com um relato como esse da internauta. Afinal, ainda existe a crença de que a mulher é mais contida no sexo e não se lançaria numa aventura, principalmente com alguém do mesmo sexo. Mas a ideia que se teve da mulher já foi bem diferente.

Desde os primórdios da civilização ocidental, houve a suposição de que as mulheres eram o sexo mais lascivo. A versão extrema e mais misógina deste argumento afirmava que as mulheres eram tão corruptas, e seus úteros tão ávidos, seu "fogo amoroso" tão voraz, que de fato "se tivessem a ousadia, todas as mulheres seriam promíscuas".

De um modo mais geral, a ideia era simplesmente que, embora o desejo da carne fosse uma tentação universal, as mulheres eram mental, moral e corporalmente mais fracas que os homens — menos racionais, menos capazes de controlar suas paixões, menos capazes de autodisciplina.

Só a partir do século 19, no entanto, a ideia exatamente oposta se firmou de maneira sólida. Passou-se a acreditar que os homens são muito mais ligados ao sexo por natureza, e propensos a seduzir mulheres.

As mulheres passaram a ser vistas como criaturas delicadas, defensivas e sexualmente passivas, que precisavam estar o tempo todo em alerta contra voracidade masculina.

Hoje, os valores são outros e a bissexualidade é apontada como uma tendência. Não são poucas as mulheres que, mesmo tendo relação estável com um homem, experimentam o sexo com outra mulher.

Na pesquisa de Shere Hite, 144 mulheres (8% das entrevistadas) declararam preferir fazer sexo com mulheres. A relação amorosa entre mulheres tem história.

Lesbos é uma ilha grega ao norte do Mar Egeu. Lá, no século VII a.C., viveu a poetisa Safo. Seus poemas são ardentes, sensuais e dirigidos às mulheres, fato sempre destacado na sua obra. As mulheres homossexuais são chamadas de lésbicas em referência ao lugar onde ela nasceu.
M
as Safo amou também os homens. Da mesma forma sensual que amava as mulheres, lhe foi atribuída uma paixão ardente por um homem chamado Fáon que, segundo o poeta Meandro (século IV a.C.), ela teria "perseguido com um amor furioso".

Não sendo correspondida no seu amor, Safo teria se lançado ao mar do alto de uma rocha, suicidando-se. Embora denegrida por alguns por seus amores, foi glorificada por seu talento.

Desde a Antiguidade, foi chamada de a "décima Musa". Mesmo assim, seu nome será sempre ligado aos amores que ela cantou, à homossexualidade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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