“Estamos casados há oito meses, mas acho que a paixão acabou”
"Estou casada há oito meses, mas nossa vida em comum está difícil. Namoramos durante um ano, cada um na sua cidade. Eu era completamente apaixonada por ele. Só nos encontrávamos um final de semana por mês, e era ótimo. Agora, vejo como ele é autoritário e preconceituoso. Odeio a forma prepotente como ele trata os empregados do prédio e a moça que trabalha na nossa casa. Não suporto seus comentários sobre meus amigos. Acho que minha paixão acabou. Não sinto mais prazer em estarmos juntos…."
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O amor romântico, pelo qual todos anseiam na nossa cultura desde meados do século 20, é calcado na idealização. Você atribui ao outro características e personalidade que ele não possui. O problema é que na convivência é impossível manter a idealização e surge, então, o desencanto. Nessa quebra de encanto, começamos a perceber que a pessoa amada e as projeções colocadas nela são realidades distintas.
Para o psicanalista americano Robert Johnson a convivência torna evidentes as diversas características de personalidade da outra pessoa. Seu jeito de ser e de pensar, como também sua generosidade ou seu egoísmo, sua coragem ou suas inseguranças, por exemplo. Alguns aspectos nos causam admiração, outros repúdio, mas de qualquer forma não conseguimos mais perceber o outro tão maravilhoso e idealizado como no início da relação. As nossas projeções sofrem a interferência da realidade. O que uma pessoa projeta na outra são partes de si própria, desconhecidas potencialidades que nunca tocou e nunca conheceu porque sempre tentou vivê-las através do outro.
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As características do amor romântico são inconfundíveis. O êxtase e a agonia que nos causam tornam a vida emocionante, nos dando essa sensação de transcendência. Para se manter nesse estado de plenitude, homens e mulheres exigem coisas impossíveis de seus relacionamentos: nós realmente acreditamos inconscientemente que o outro tem a obrigação de nos manter sempre felizes, de tornar nossa vida significativa, vibrante, plena de encanto. Mas, quando nos desapaixonamos, o mundo instantaneamente parece desolado e vazio apesar de, em alguns casos, continuarmos ao lado da mesma pessoa que antes nos propiciava tanta felicidade.
O amor é uma construção social; em cada período da história se apresenta de uma forma. O amor romântico está dando sinais de sair de cena. Os anseios contemporâneos são em busca da individualidade, e esse tipo de amor prega o oposto, a fusão entre duas pessoas. Acredito que cada vez mais mulheres e homens desejam desaprender e reaprender a amar.
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