As relações entre orgasmos e a nossa saúde mental
Um dia recebi no consultório o telefonema aflito de uma mulher querendo marcar hora com urgência. Ethel, de 76 anos, magrinha, de cabeça toda branca, chegou agitada. E foi logo contando sua história:
"Moro com minha irmã, dois anos mais velha. Nunca nos casamos, somos virgens. Até pouco tempo atrás eu nunca tinha me preocupado com sexo. Mas de dois anos pra cá a minha vida virou um tormento. De manhã quando acordo, se não me masturbar, não consigo fazer nada, nem dizer para a empregada o que é preciso comprar para o almoço. E o meu desejo sexual vem aumentando cada vez mais. Agora descobri que com o chuveirinho do bidê posso ter mais prazer do que com a minha mão. Mas estou preocupada, tenho pavor de que a minha irmã descubra que faço isso."
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Os sentimentos de vergonha e culpa, tão presentes na nossa cultura, fazem com que quase todos se recriminem por suas atividades ou mesmo por seus desejos, como se não fossem algo humano. No mundo ocidental, o corpo é visto como inimigo do espírito. Aprendemos a nos sentir envergonhados e culpados por ele, principalmente pelos órgãos sexuais e suas funções.
Há muito tempo nos ensinam que imagens do corpo humano nu, particularmente experimentando o prazer sexual, são obscenas. E mesmo quando se consegue rejeitar conscientemente todo esse moralismo, a mensagem negativa é absorvida sem que se perceba.
E o sexo sendo visto como algo tão perigoso leva a maioria a renunciar à própria sexualidade, ficando quieta no seu canto. A questão é que nem sempre a repressão é bem sucedida, como no caso de Ethel.
Para o psicanalista Wilhelm Reich (1897-1957) as enfermidades psíquicas são a consequência do caos sexual da sociedade, já que a saúde mental depende da potência orgástica, isto é, do ponto até o qual o indivíduo pode se entregar e experimentar o clímax de excitação no ato sexual.
Ele tinha total convicção da importância do orgasmo para a saúde física e mental, bem como para evitar as neuroses. A partir da observação de seus pacientes, concluiu que aqueles que passavam a estabelecer relações sexuais mais prazerosas apresentavam melhoria do quadro clínico.
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