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Regina Navarro Lins

"Meus pais não aceitam meu namoro; dizem que minha namorada é ninfomaníaca"

Universa

15/06/2020 04h00

Ilustração: Caio Borges/UOL

"Tenho 24 anos e tenho uma namorada há seis meses. Não tenho dúvida de que a amo, mas minha vida em casa está um inferno. Meus pais não aceitam o meu namoro. Eles alegam que eu mereço coisa melhor; que minha namorada não passa de uma ninfomaníaca. Antes de mim, ela teve três namorados que são meus conhecidos, e meus pais acham isso inadmissível."

 

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A ninfomaníaca, ou seja, a mulher que nunca se satisfaz no sexo, foi um mito alimentado, ao longo da história, pela repressão sexual. No século 19, uma onda de fervor moral varreu o Ocidente. As mulheres foram conclamadas a proporcionar um modelo de pureza para ambos os sexos. Ao mesmo tempo, o novo ideal feminino – a mulher casta, o anjo da casa – fazia com que elas ficassem num pedestal.

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Sua missão era domar as paixões dos homens e manter a castidade do lar, mas isso sem participar do mundo. Os médicos avaliaram que elas tinham um sistema nervoso muito delicado, "doença mensal" e cérebro menor, além de órgãos reprodutivos também menores; tudo isso fazia com que fosse insalubre para elas votar, trabalhar fora de casa, escrever livros, ir para a universidade, ou participar de debate público.

Diversas teorias médicas tentavam explicar as causas da ninfomania: nervos esgotados, inflamação no cérebro, lesões na coluna, cabeça deformada, além de genitália irritada e clitóris ampliado. Diziam também que a ninfomania se relacionava com o desejo sexual não controlado pela vontade, a disposição para sucumbir à tentação.

Sem dúvida, a mulher insaciável é uma fantasia masculina. Mas muitas mulheres sofreram em função desse mito. Médicos retiravam os ovários de algumas mulheres para controlar sua sexualidade, e em alguns casos, removiam o clitóris. Outras foram colocadas em instituições para doentes mentais com o diagnóstico de ninfomaníacas.

Os preconceitos históricos quanto à sexualidade feminina, aliados à ignorância sempre causaram vítimas. Na medida em que havia a crença de que mulheres não têm desejo, qualquer uma que tivesse algum era doente: uma ninfomaníaca.

O pesquisador da sexualidade, Alfred Kinsey, dizia que ninfomaníaca é alguém que gosta sexo mais do que você. Para muitos, até hoje, qualquer mulher que gosta de sexo e não se reprime, é considerada uma mulher insaciável.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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