"Sou separada, e o desejo de ser mãe está ficando mais intenso"

Ilustração: Caio Borges
"Tenho 39 anos e estou separada há quatro. Não tive filhos durante o casamento, mas o desejo de ser mãe está ficando cada vez mais intenso. Estou pensando em ter um filho, mesmo sozinha. Já analisei muito as vantagens e desvantagens, e acho que já decidi. Só não sei se procuro um amigo disposto a colaborar comigo ou um banco de sêmen."
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É claro que não faltam críticas à ideia de ser mãe sem estar casada. Muitos se sentem chocados, acusando essas mães de só pensar nelas em detrimento da criança. É comum se dizer que, criada sem a presença do pai, a criança terá dificuldades emocionais pela vida afora. Mas será que é verdade mesmo ou apenas mais uma das afirmações que as pessoas repetem apenas por hábito?
Todos sabemos que o simples fato de uma criança ser educada dentro de uma família tradicional não lhe garante uma vida adulta mais saudável. Quanto à ausência da figura paterna, surgem novos questionamentos. Há quem afirme que o fundamental para a criança é se sentir amada, respeitada e valorizada, e que em nenhum momento aparece a necessidade de duas presenças físicas, uma masculina e outra feminina, para que isso ocorra.
A pesquisadora americana Shere Hite vai mais longe. Ela afirma que em suas pesquisas, realizadas com centenas de famílias e crianças, descobriu que os meninos criados apenas pelas suas mães e não pelo casal parecem ter mais facilidade, quando adultos, em estabelecer relações humanas consequentes e responsáveis, e se tornam homens mais corajosos e mais íntimos no relacionamento humano.
O motivo? Os pais machistas, que costumam ser emocionalmente distantes dos filhos e até fisicamente agressivos. O modelo de comportamento transmitido leva os filhos a fugir das emoções calorosas, da empatia e da compreensão.
O problema é que as mulheres, talvez por terem sido mais oprimidas, quebraram primeiro os modelos que as aprisionavam ao estereótipo feminino de passividade e medo e puderam assim exercer seus aspectos de força, coragem e ousadia. Não resta dúvida de que seria ótimo que homens e mulheres usufruíssem, em condição de igualdade, do prazer de criar um filho, contribuindo ambos para sua formação. Mas é importante ressaltar que o problema que se apresenta agora não é a criança. É o homem.
Para não ser excluído do processo de transformação das mentalidades que está ocorrendo, perdendo a chance de uma vida mais satisfatória, ele precisa ter coragem de, por conta própria, aceitar o fim da ideologia patriarcal, isto é, da ideologia de dominação do homem, que impediu uma sociedade de parceria entre homens e mulheres.
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