Topo

Regina Navarro Lins

Como a repressora rainha Vitória afetou a vida sexual de tanta gente

Regina Navarro Lins

01/11/2018 04h00

Ilustração: Caio Borges

A coroa foi colocada na cabeça da rainha Vitória, em 1837. Tida por muitos como uma soberana medíocre, ela comandou o Império Britânico até 1901. Além da grande influência, a atuação da rainha é quase folclórica em função dos absurdos que impôs a seus súditos, e que afetou todo o Ocidente.

"A força brutal do desejo sexual é desconhecido pela mulher honesta", pregava a rainha. Apesar de  personificar a moral sexual vitoriana, a rainha conseguiu manter até os 40 anos de idade todo o vigor e a capacidade de desfrutar o sexo. Após a morte do príncipe consorte, em 1861, a nação inglesa associou-se à tristeza que a afetava, tendo sido com sua aprovação tácita que as forças da repressão começaram a aumentar o controle sobre o país.

As pessoas sentiam-se culpadas ao comparar seu comportamento sexual com o celibato forçado da soberana. Essa culpa levou à hipocrisia. A classe média foi compelida a fingir que se comportava de uma forma, que teria a aprovação não apenas da rainha, mas também da Igreja. A sexualidade é então definida pelos médicos como uma força potencialmente perigosa para a saúde, que deve ser severamente vigiada e enquadrada.

A linguagem sofreu rápida transformação. Palavras como suor, gravidez, sexo, foram substituídas por termos mais evasivos. Ao invés de se dizer que uma mulher estava grávida dizia-se que ela se encontrava "em estado interessante" ou que se achava em "visita interior". Na presença de uma criança recém-nascida, dizia-se que ela fora "descoberta debaixo de uma groselheira".

Alterou palavras que considerava ofensivas, por exemplo, substituindo "testículos" por "membros privativos". As mulheres passaram a descrever o local da dor para os médicos apontando para um ponto semelhante numa boneca, de modo a não ter de fazer algum gesto deselegante ou indelicado. Qualquer parte do corpo entre o pescoço e os joelhos passou a ser chamado de "fígado".

A sexualidade reprimida foi removida para áreas inócuas, tais como os móveis. As pernas de piano eram cobertas por capas pelas damas embaraçadas, para não excitar os homens por sua semelhança com as pernas femininas. As damas já haviam  sido celebradas por sua pureza antes disso, mas os tabus vitorianos constituíram algo de novo. Os comportamentos são regidos pela vergonha. O corpo e seus mistérios assustam.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

Blog Regina Navarro