"Desde que quis me divorciar, minha ex sabota o convívio com nossas filhas"

Ilustração: Caio Borges
"Sou engenheiro, tenho 43 anos, e desde que me separei, há três anos, pago um preço alto; a minha vida virou um inferno. Eu e minha mulher vivíamos mal, as brigas eram constantes, parecíamos dois inimigos sob o mesmo teto. Nossas duas filhas eram testemunhas do rancor que havia entre nós. Pedi o divórcio e ela reagiu muito mal. Tenta sabotar de todas as formas meu contato com as meninas. A cada 15 dias é uma batalha para conseguir estar com elas. Não quero desistir delas, porque as amo demais."
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Não tenho dúvida de que o divórcio é, muitas vezes, a melhor opção, apesar de geralmente ser um período bem difícil. Há ainda uma agravante: a sensação de fracasso, já que desde criança todos aprendem que o casamento é o lugar onde uma pessoa pode se realizar afetivamente. Acrescente-se a isso a baixa autoestima que ocorre nessas situações e as inseguranças pessoais que reaparecem. O resultado são separações em que a hostilidade e o ódio pelo outro chegam a níveis extremos. E isso pode ocorrer com qualquer um, independente do sexo.
O outro aspecto, que já deveria estar sendo discutido mais amplamente, é a situação do homem atual. Muitos passaram a questionar a identidade masculina, desejosos de se libertar dos papéis tradicionais a eles atribuídos. Não mais subjugados ao mito da masculinidade, acreditando na igualdade entre os sexos, buscam uma vida afetiva com suas parceiras livres de obrigações e cobranças, que só servem para impedir uma relação verdadeira com elas. Mas nem todas as mulheres se deram conta disso.
Muitas continuam alimentando a mesma forma de pensar e agir de sempre: a mulher é frágil, desamparada, necessitando desesperadamente de um homem ao lado, que lhe dê amor e proteção e, mais do que tudo, que dê um significado à sua vida. Ao mesmo tempo em que qualquer homem é visto como perigoso, sempre disposto a enganar.
Dentro dessa ótica, a separação é percebida como um ataque, merecendo, portanto, ser revidado. O simples fato de um homem não desejar mais a continuidade do casamento o transforma de imediato no déspota opressor, tão conhecido na história do patriarcado. Com os estereótipos masculinos falando mais alto, surge o desejo de vingança. E para que ela tenha êxito, não se pode aceitar que a meta de todos deveria ser a busca de uma vida realmente satisfatória.
É certo que a mudança das mentalidades demora algumas vezes mais de cem anos para se concretizar, mas isso não importa, desde que se abra um espaço definitivo para a autonomia de homens e mulheres. Enquanto isso, sorte de quem tem coragem para aproveitar este momento, em que, felizmente, a culpa e os sacrifícios estão sendo substituídos pela possibilidade de prazer.