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Regina Navarro Lins

"Minha mulher só me critica. Às vezes, sinto que ela me odeia"

Regina Navarro Lins

20/08/2018 04h00

Ilustração: Caio Borges

"Somos casados há 12 anos e temos um filho. Mas o convívio com a minha mulher está cada vez mais difícil. As brigas são constantes e por motivos insignificantes. Ontem, combinamos de jantar fora, mas, antes de eu sair do escritório, minha mãe ligou precisando urgente que eu fosse até sua casa; meu pai não estava bem. Tive que desmarcar o jantar, o que foi motivo para discussões sem fim. Ela me critica em tudo e está sempre de mau humor. Não é raro ela me desvalorizar na frente dos amigos. Às vezes sinto que ela me odeia."

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"Não conheço rancor pior que o matrimonial. A maior parte dos casamentos, durante a maior parte do tempo, são de precários a péssimos. A cara das pessoas nessa situação fica de uma feiúra que assusta. O clima em torno dos dois é literalmente irrespirável, sobretudo por acreditarem ambos que têm razão." afirma o psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa.

Para ele, o rancor matrimonial, acima de tudo, amarra, pega você de qualquer jeito, te imobiliza, como se você tivesse caído numa teia de aranha. Quanto mais você se mexe, mais se amargura e raiva sente. Raiva — que faz brigar; mágoa — que faz chorar. A mistura das duas é o rancor, um ficar balançando muito e muito tempo entre o homicídio e o suicídio. E cometendo ambos ao mesmo tempo.

A primeira pergunta que nos vem à mente é: por que não se separam?  Não se separam porque dependem um do outro emocionalmente, precisam do parceiro para não se sentirem sozinhos e, principalmente, para que seja o depositário de suas limitações, fracassos, frustrações e também para responsabilizá-lo pela vida tediosa e sem graça que levam. Quanto maior a defasagem entre a expectativa que tinham do casamento e a impossibilidade de concretizá-la, piores são as brigas.

Aquela ideia de que, ao casar, se tornariam um só, com todas as necessidades satisfeitas, já foi abandonada há muito tempo. O que restou foi um profundo rancor, exercitado no dia a dia. Virginia Sapir, uma terapeuta de família americana, conhecida no mundo todo, afirma que o sentimento mais comum entre os casais é o desprezo recíproco.

Quanto a isso penso não haver dúvida. Parece que se despreza o outro por ter falhado na grande expectativa do amor romântico: que os dois se transformariam num só e teriam todas as necessidades satisfeitas pelo outro. Além, claro, de tornar a vida do parceiro plena e interessante em todos os momentos.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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