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Regina Navarro Lins

O homem machão está perdendo o prestígio. Ainda bem

Regina Navarro Lins

16/08/2018 04h00

Ilustração: Caio Borges

O homem machão está perdendo o prestígio. Ainda bem. Isso é bom para a mulher e principalmente para ele próprio.  Os homens estão esgotados, exaustos de serem cobrados a corresponder a um ideal masculino inatingível. Sentem-se obrigados a ser fortes, ter sucesso e nunca falhar. O famoso poema If,  de Rudyard Kipling, começa assim: "Se és capaz de manter a tua calma quando todos ao redor já a perderam e te culpam, se és capaz…", e continua enumerando infinitas condições para, no final, se o jovem for capaz de tudo, dizer: "Então, és um homem meu filho." Ufa!  Como é difícil ser homem!

Desde pequenos os homens são desafiados a provar sua masculinidade.  O masculino é uma tragédia coletiva. Nunca relaxar para sempre ser considerado macho gera angústia nos homens, além de sentimento de inferioridade entre eles. Na nossa sociedade, ser homem requer um esforço sobre-humano. Ele é tão emotivo e sensível quanto a mulher, mas aprende que para ser macho não pode chorar. Tem que ser agressivo, não ter medo de nada e, mais do que tudo, ser competente no sexo, ou seja, nunca falhar.

Como defesa contra a ansiedade que essas exigências provocam, e para encobrir o sentimento de inferioridade por não alcançar o ideal masculino, eis que surge o machão. Sempre alerta, seu objetivo é deixar claro que despreza as mulheres, os homossexuais e é superior aos outros homens.

Até o movimento de emancipação feminina, há 50 anos, o machão ainda agradava a maioria das mulheres. Os papéis sociais masculino e feminino eram claramente definidos. As mulheres se conformavam em apenas expressar características de personalidade que lhes eram atribuídas: meiguice, gentileza, fragilidade, indecisão. Ocultando quaisquer outras que estivessem ligadas a coragem, força, decisão, elas se mutilavam. Sabiam que seriam repudiadas. Assim, valorizavam homens também mutilados, isto é, os que só expressavam uma parte de si: força, agressão, coragem, desafio, poder.

Acontece que, a partir daí, as mulheres passaram a se sentir no direito de ser mostrar por inteiro. Podiam ser fracas, mas também fortes, dóceis e agressivas, indecisas e decididas, medrosas e corajosas, dependendo do momento e das circunstâncias. O caminho natural foi desejar se relacionar com homens que pudessem ser inteiros também, que assim como elas não mais precisassem reprimir vários aspectos da personalidade. Assim, o machão começou a perder seu lugar.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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