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Regina Navarro Lins

Ataques ao debate sobre gênero querem manter preconceito e desinformação

Regina Navarro Lins

16/11/2017 19h51

Grupo contra a filósofa norte americana Judith Butler faze manifestação durante evento no Sesc Pompéia, em SP
Crédito: Paulo Lopes/Futura Press/Estadão Conteúdo

Crianças no ensino fundamental devem ser livres para explorar "quem eles podem ser". Ter a liberdade de usar tiara, capa de super-herói ou até saiote de balé sem reprimenda de professores ou colegas, diz a Igreja Anglicana, igreja cristã oficial da Inglaterra e País de Gales.

O arcebispo de Canterbury, Justin Welby – líder supremo da Igreja Anglicana – disse que o guia deverá ajudar as escolas a espalharem a mensagem cristã "sem exceção ou exclusão". A ONG britânica Stonewall, de defesa dos direitos LGBT, diz que a nova orientação vai ajudar a prevenir o bullying.

Um levantamento da Aliança Anti-Bullying, entidade que reúne organizações voltadas ao combate do bullying, revelou que uma em cada cinco crianças "escondem aspectos" de sua personalidade por medo de sofrer rejeição dos colegas. Dos 1,6 mil jovens e crianças entre oito e 16 anos entrevistados, quase dois terços disseram já terem testemunhado alguém sofrer bullying por ser "diferente".

A tentativa da discussão sobre gênero nas escolas brasileiras, visando a aceitação da diversidade e a inclusão, foi rejeitada e o debate sobre o tema atacado. A filósofa e escritora americana Judith Butler, professora da Universidade da Califórnia, esteve no Brasil para participar do seminário sobre democracia em São Paulo. Semanas antes da sua vinda, uma petição com 360 mil assinaturas foi criada pedindo o cancelamento da sua vinda. O texto do abaixo assinado diz que ela idealizadora e promotora da "ideologia de gênero". A agressão a ela foi vergonhosa.

A desinformação e o preconceito não permitem perceber que gênero é uma construção social, e que "ideologia de gênero" é justamente o discurso que acredita que o ideal masculino é ser superior à mulher, que o homem tem que ter força, sucesso e poder. O ideal feminino é o oposto: submissão, fragilidade, dependência. Desde o nascimento essa "ideologia de gênero" se faz clara. Roupa azul para o menino e rosa para a menina. Assim como os brinquedos divididos entre carrinhos e bonecas. Isso sem esquecer da frase: "Homem não chora!"

Será que nos ataques ao debate sobre gênero não há a intenção de fazer com que as mulheres, os gays, as lésbicas, as bissexuais, as trans, enfim, todas as pessoas que não são a norma de gênero, permaneçam em uma posição de subjugados?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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