Por medo da solidão, casais podem virar estranhos no mesmo teto
Ilustração: Caio Borges
Há pessoas que vivem muito mal no casamento, mas dão a impressão de estarem anestesiadas. Na busca de segurança afetiva, qualquer preço é pago para evitar tensões decorrentes de uma vida autônoma. Por medo da solidão suportam o insuportável tentando manter a estabilidade do vínculo, e não raro se tornam dois estranhos ocupando o mesmo espaço físico. Como mecanismo de defesa, surge a tendência a não se pensar na própria vida.
O historiador inglês Theodore Zeldin afirma que o medo da solidão assemelha-se a uma bola e uma corrente que, atados a um pé, restringem a ambição, são um obstáculo à vida plena, tal e qual a perseguição, a discriminação e a pobreza. Se a corrente não for quebrada, para muitos a liberdade continuará um pesadelo. Segundo ele, a crença mais gasta, pronta para a lixeira, é que os casais não têm em quem confiar salvo neles próprios.
Não há dúvida de que o medo da solidão é responsável por muitas opções equivocadas de vida. Para o psicoterapeuta e escritor Roberto Freire risco é sinônimo de liberdade e o máximo de segurança é a escravidão. A saída é vivermos o presente através das coisas que nos dão prazer. A questão, diz Freire, é que temos medo, os riscos são grandes e nossa incompetência para a aventura nos paralisa. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção.
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