“Meu marido me estuprou, mas eu não tenho como me separar”
Ilustração: Caio Borges
"Nossa relação era razoável, mas num determinado momento começou uma crise que não acabou mais. Passei a evitar fazer sexo. Ele me cobrava argumentando que era quem pagava as contas. Um dia tentou forçar a relação sexual e eu gritei; fiz um escândalo. Ele recuou. Nos meses seguintes, correu tudo normal, mas como sempre sem sexo. Até que ele perdeu o prumo. Numa noite me pegou à força, tapou minha boca e me estuprou. Desde então só penso em como me livrar desse casamento. Trabalho o dia inteiro, inclusive aos sábados, mas o que ganho não dá para me sustentar sozinha. Não sei o que fazer."
***
Ao ouvir esse relato é impossível não nos perguntarmos: Por que um homem se sente com direito de estuprar uma mulher, ainda que ela seja sua própria esposa? Para responder a isso, é necessário compreender as características do sistema em que vivemos há mais ou menos cinco mil anos: o sistema patriarcal.
Trata-se de uma organização social baseada no poder do pai, e a descendência e parentesco seguem a linha masculina. As mulheres são consideradas inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação.
Superior/inferior, dominador/dominado. A ideologia patriarcal dividiu a humanidade em duas metades, acarretando desastrosas consequências. É evidente que a maneira como as relações entre homens e mulheres se estruturam — dominação ou parceria — tem implicações decisivas para nossas vidas pessoais, para nossos papéis cotidianos e nossas opções de vida.
O antagonismo entre os sexos impede uma amizade e um companheirismo verdadeiros, fazendo com que a relação entre homem e mulher se deteriore. As relações conjugais têm sido de condescendência de um lado e obrigação de outro, cheias de desconfianças, ressentimentos e temores.
Não há dúvida de que as mentalidades estão mudando; muitos homens já compreenderam que a virilidade tradicional é bastante arriscada e cada vez mais aceitam que atitudes e comportamentos sempre rotulados como femininos são necessários para o desenvolvimento de seres humanos.
A consequência é a gradual destruição de valores tidos como inquestionáveis no que diz respeito ao amor, ao casamento e à sexualidade, trazendo a perspectiva do fim da guerra entre os sexos e o surgimento de uma sociedade onde possa haver parceria entre homens e mulheres.
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