"Meu ex-marido me violentou, me ameaça, mas não o denunciei"
Ilustração: Caio Borges
"Temos quatro filhos, mas nosso casamento tinha brigas diárias insuportáveis. Estamos separados há dois anos, só que ele não saiu de casa. Não suporto que ele me toque. Depois que ele me violentou a situação só piorou. Implorei para que ele saísse, pois já não dava mais para continuarmos debaixo do mesmo teto. Não sei como conquistar meu sossego, pois ele me atormenta, me ameaça. Sempre aparece bêbado, faz ameaça física, fala coisas que me humilham. Nunca fiz nenhuma denúncia contra essas violências. Acho que esse foi meu erro."
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Segundo um artigo do jornal americano New York Times, o comandante das forças das Nações Unidas na Bósnia costumava se referir aos rugidos noturnos das metralhadoras no centro de Sarajevo, em 1993, como "violência doméstica".
Atos de violência física podem não ocorrer mais de uma vez ou podem se repetir, mas quando não são denunciados há sempre uma escalada de intensidade e frequência. É suficiente, a partir daí, fazer lembrar a primeira agressão por meio de ameaças ou de um gesto, para que, segundo o princípio do reflexo condicionado, a memória reative o incidente na vítima, levando-a a submeter-se novamente.
É da violência sexual que as mulheres têm mais dificuldade de falar e, no entanto, ela está muitas vezes presente. Essa forma de violência abrange um espectro bastante amplo, que vai do assédio sexual à exploração sexual, passando pelo estupro conjugal.
Num estudo, na França, com uma amostragem de 148 mulheres vítimas de violência no casal, que 68% das vítimas interrogadas relatavam ter sofrido, além de pancadas e ferimentos, violência sexual por parte do marido. As mulheres sexualmente agredidas apresentavam, significativamente, mais sintomas psicológicos pós-traumáticos que as que haviam sofrido apenas violência física sem componente sexual.
A violência sexual tem duas formas de se manifestar: pela humilhação ou pela dominação. De qualquer forma, toda violência sexual é bastante traumatizante. A violência sexual é, sobretudo, um meio de sujeitar o outro. O que não tem nada a ver com o desejo; é simplesmente, para o homem, um modo de dizer: "Você me pertence".
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