Somos incompetentes para amar?
Comentando a Pergunta da Semana
As opiniões se dividiram entre as pessoas que responderam à enquete da semana quanto ao fato de as escolas ensinarem aos alunos a se relacionar afetivamente.
O relato que Marcelo, um advogado de 33 anos, casado há dois, me fez no consultório me fez refletir sobre esse tema. Ele relatou como tem sido a convivência com a mulher.
"Amo profundamente a minha mulher, mas não conseguimos conversar; por qualquer motivo já estamos brigando. Todos pensam que vivemos bem, mas nossa vida é um desentendimento só. E olha que estamos juntos há pouco tempo. Estou me sentindo deprimido, sem ânimo para nada."
Não é fácil viver assim. O historiador inglês Theodore Zeldin afirma que o ruído do mundo é feito de silêncios, na medida em que é muito difícil a verdadeira comunicação entre as pessoas.
Ele diz que precisamos abandonar a etiqueta destrutiva, o fútil jogo das aparências, porque na maior parte dos encontros, orgulho ou cautela ainda proíbem alguém de dizer o que sente no íntimo.
Para Zeldin, uma boa conversa não é só transmitir informações ou compartilhar emoções, e tampouco apenas um modo de colocar ideias na cabeça de outras pessoas.
Toda conversa é um encontro entre espíritos que possuem lembranças e hábitos diversos. Quando os espíritos se encontram, não se limitam a trocar fatos: eles os transformam, dão – lhes nova forma, tiram deles implicações diferentes, empreendem um novo encadeamento de pensamentos.
Ele diz ainda: "Conversar não é apenas reembaralhar as cartas: é criar novas cartas para o baralho. O aspecto da prática da conversa que mais me estimula é o fato de poder mudar os sentimentos, as ideias e a maneira como vemos o mundo, além de poder mudar até mesmo o próprio mundo."
Educadores americanos começaram pela primeira vez, nos EUA, há mais ou menos 20 anos, a abordar a educação para amar, ou seja, a alfabetização emocional —, para ajudar os estudantes a aprender maneiras de ser e de se relacionar. Essa educação está sendo introduzida lentamente no currículo escolar.
Há escolas que ensinam seus alunos de literatura e história a empatia através do que chamam de "monólogos interiores", nos quais os estudantes são encorajados a pensar a partir da perspectiva dos diferentes personagens na história, na literatura e na vida.
Outra escola tem como objetivo elevar o nível da competência emocional e social das crianças como parte da educação. Como exigência para alunos do ensino médio, uma escola na Califórnia pretende estimular dimensões da inteligência quase sempre omitidas: sensibilidade em relação aos outros, intuição, imaginação e conhecimento do corpo.
Penso que diante da dificuldade de a maioria das pessoas se relacionarem amorosamente de forma satisfatória, talvez seja uma boa ideia esse tipo de aprendizado fazer parte do currículo escolar.
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