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Regina Navarro Lins

Apesar dos costumes sociais, homens e mulheres são profundamente adúlteros

Regina Navarro Lins

26/07/2016 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

As opiniões se dividiram quanto à enquete da semana: Quem ama e deseja o parceiro fixo não sente vontade de transar com outra pessoa?

Em 28 de fevereiro de 1997, Monica Lewinsky entrou no Salão Oval para seu último encontro sexual com o presidente Bill Clinton. O presidente deu-lhe alguns presentes e então… segundo o testemunho de Monica:

"Voltamos ao banheiro no corredor e nos beijamos. Estávamos nos beijando e ele desabotoou meu vestido e acariciou meus seios com o sutiã, e então ele tirou o sutiã e beijou meus seios, tocou-os com as mãos na boca. E então acho que toquei em sua área genital através das calças e que desabotoei sua camisa e beijei-lhe o peito. E então eu quis fazer sexo oral nele e o fiz. E então ele me afastou, como sempre fazia antes de gozar, e então eu me levantei e disse: Você é tão importante para mim. Eu não entendo por que não me deixa fazer você gozar; é importante para mim. Quer dizer, não parece completo, não parece certo." Eles se abraçaram, se entreolharam e o presidente disse: "Não quero desapontá-la."

Monica Lewinsky, então, continuou a fazer sexo oral no presidente até o fim. Posteriormente, testes de laboratório revelaram que a mancha de sêmen no vestido que Lewinsky usava naquele dia continha DNA que combinava com o do presidente, fornecendo indiscutível evidência do caso secreto que os dois vinham tendo de 15 de novembro de 1995 até seu encontro final em 1997.

O presidente Bill Clinton quase sofreu um impeachment por seu relacionamento com a estagiária. É impressionante que as pessoas arrisquem tanto – status, reputação, casamento, filhos e até segurança pessoal – para praticar sexo fora do casamento.

Isso parece ser irresistível como uma droga. Tão irresistível a ponto de as pessoas se arriscarem também a serem mutiladas e/ou executadas. Mas apesar de todas as punições, homens e mulheres, de qualquer época e de qualquer lugar, se envolvem em relações extraconjugais.

Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, são muito comuns as relações extraconjugais. O pesquisador Alfred Kinsey afirmou a esse respeito: "A preocupação da biografia e da ficção do mundo, em todas as épocas e em todas as culturas humanas, com as atividades não-conjugais de mulheres e homens casados, é evidência da universalidade dos desejos humanos nessas questões."

Reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. W.Reich afirma que todos deveriam saber que o desejo sexual por outras pessoas constitui parte natural da pulsão sexual. Provavelmente diminuiriam as torturas psicológicas e os crimes passionais, e desapareceriam também inúmeros fatores e causas das perturbações psíquicas que são apenas uma solução inadequada desses problemas.

Apesar dos conflitos, medos e culpas, da expectativa dos parentes e amigos, dos costumes sociais, e dos ensinamentos estimularem que se invista toda a energia sexual em uma única pessoa — marido ou esposa —, homens e mulheres são profundamente adúlteros.

Anthony Thompson, do Instituto de Tecnologia da Austrália Ocidental, argumenta que a probabilidade de que o marido ou a mulher terão um caso possa ser tão alto quanto 76%. Será que não está na hora de começarmos a questionar se fidelidade tem mesmo a ver com sexualidade?

A escritora uruguaia Carmem Posadas diz que é impossível possuir o outro por completo, por isso inventaram a fidelidade, que no fim das contas é uma reciprocidade possessiva. Cada membro do casal compromete-se a ser fiel ao outro para não perdê-lo, para assegurar-se de que "está atado e bem atado.

O argumento de que o ser humano é 'predestinado' à monogamia é difícil de sustentar. Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento livremente escolhidas também devem ser consideradas."

O psicoterapeuta e escritor Roberto Freire afirma estar convencido de que "a maneira mais fácil e rápida de destruir uma relação afetiva é torná-la exclusiva, isolada, fechada. O namoro permanente, inespecífico e poliforme serve justamente para impedir isso. Além de ser muito mais gostoso viver desse jeito."

Quando eu escrevia um livro sobre fidelidade, pesquisei o que estudiosos do tema pensam sobre as motivações que levam a uma relação extraconjugal na nossa cultura. Fiquei bastante surpresa. As mais diversas justificativas apontam sempre para problemas emocionais, insatisfação ou infelicidade na vida a dois.

Não li em quase nenhum lugar o que me parece mais óbvio: embora haja insatisfação na maioria dos casamentos, as relações extraconjugais ocorrem principalmente porque as pessoas gostam de variar. Um casamento pode ser plenamente satisfatório do ponto de vista afetivo e sexual e mesmo assim as pessoas terem relações extraconjugais.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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