Apostando na independência amorosa
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que respondeu à enquete da semana aceitaria que seu parceiro viajasse sozinho de férias.
Mas nem todos pensam assim. Depende muito da visão e da expectativa que se tem de uma relação amorosa. Se significar ter a outra pessoa sempre ao lado, só sair com ela, saber a qualquer momento o que ela está fazendo, enfim, ter um controle total da sua vida, é pouco provável que essa independência seja admitida com tranquilidade. As frustrações serão muitas e na maior parte das vezes impossíveis de suportar.
Viajar sozinho nas férias não é compatível com os ideais do amor romântico, que todos aprendem a desejar. Esse tipo de amor nos é imposto, desde muito cedo, como única forma de amor. Contém a ideia de que duas pessoas se transformam numa só, havendo complementação total e nada lhes faltando, que o amado é a única fonte de interesse do outro e, portanto, nada na vida tem graça se ele não estiver presente.
O amor romântico não é apenas uma forma de amor, mas todo um conjunto psicológico — uma combinação de ideais, crenças, atitudes e expectativas. Essas ideias coexistem no inconsciente das pessoas e dominam seus comportamentos e reações. Inconscientemente, predetermina-se como deve ser o relacionamento com outra pessoa, o que se deve sentir e como reagir.
Numa relação estável – namoro ou casamento – é comum o casal se afastar dos amigos e também abrir mão de atividades que anteriormente proporcionavam grande prazer a cada um.
Ao entrar em uma relação amorosa, a dependência infantil reaparece com bastante força. No par amoroso é depositada a certeza de ser cuidado e de não ficar só. A distância faz sentir o desamparo, da mesma forma que se sentia quando a mãe se ausentava. Muitos acreditam até que o parceiro deve estar sempre pronto para suprir todas as necessidades do outro, adivinhando pensamentos e desejos.
Acredito que uma relação amorosa fixa e estável pode ser ótima. Mas para isso as pessoas precisam reformular as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois. É fundamental que haja respeito total ao outro, ao seu jeito de pensar e de ser e às suas escolhas; liberdade de ir e vir, ter amigos em separado e programas independentes, inclusive viagens. Caso contrário, a maioria das relações, com o tempo, se tornarão sufocantes.
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