Sexo sem preliminares
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta que tem um amante ótimo, mas que não entende o comportamento dele quando chegam a um motel. Ele avança sobre ela quase com fúria. Antes de qualquer outra atitude, muitas vezes sem que ela tenha tirado toda a roupa, a penetra e logo goza. Depois tudo volta ao normal; ele fica carinhoso, conversam e fazem mais sexo. Ela não sabe o que fazer diante disso.
Por que o parceiro da internauta tem tanta pressa em penetrá-la, ignorando a importância das preliminares? Muitos homens ainda estão presos ao mito da masculinidade e vão para o ato sexual para cumprir uma missão: provar que são machos.
Só depois se sentem transformados em homens e podem participar com a mulher da troca recíproca de prazer. O temor de perder a ereção e não corresponder ao ideal masculino da nossa cultura; desconhecimento da sexualidade feminina; ideia de que sexo não é tão importante assim para a mulher. Estes fatores podem ser os responsáveis por atitude tão estranha.
Apesar de na nossa cultura se insistir em que o sexo é puramente instintivo e natural, não há dúvida de que ele possui uma história. A pouca importância dada ao prazer das mulheres foi de tal ordem que no século 19 os médicos chegaram a considerá-las portadoras de anestesia sexual. Sendo assim, o homem não tinha nada mesmo com que se preocupar. No entanto, o prazer dele sempre foi enaltecido, embora de forma totalmente equivocada.
Quem nunca ouviu elogios ao desempenho sexual de um homem, comparando-o ao macho de algumas espécies animais, principalmente um garanhão, um touro ou um galo? Não dá para entender como sexo assim pode ser bom. A capacidade sexual dos animais implica numa total falta de diversidade, de intimidade, e de liberdade, presos que estão a uma posição única e a um relógio biológico.
A produção de Hollywood, que há tanto tempo influencia o comportamento ocidental, também fez a sua parte na divulgação de uma ideia falsa do prazer sexual.Num filme, em poucos minutos, às vezes com um simples abraço, a mulher fica instantaneamente lubrificada e a satisfação no ato sexual se dá rapidamente. Há algum tempo, a atriz Candice Bergen descreveu para a revista Esquire como desempenha um ótimo orgasmo: "Dez segundos de respiração funda, girar a cabeça nas duas direções, simular um ataque de asma e morrer um pouco."
Os sexólogos americanos Masters e Johnson, com base em seus estudos, formularam a teoria de que a resposta sexual ocorre em quatro estágios: excitação, platô, orgasmo e resolução. Cada estágio é acompanhado por várias alterações corporais.
Como a mulher demora três vezes mais que o homem para atingir um mesmo nível de excitação, a fase do platô, que antecede o orgasmo, deve ser prolongada ao máximo. E aí estamos falando de carícias preliminares. O tamanho e o vigor do pênis serão de muito pouca utilidade se, da mesma forma como ocorre com o homem, não houver a ereção dos órgãos genitais femininos como pré-requisito para a penetração.
Contudo, o homem não é o único responsável pelo prazer sexual da mulher. A ideia de mulher passiva, que se deixa conduzir, incapaz de uma iniciativa, reflete bem a inferioridade que algumas mulheres ainda sentem quando esperam que o homem sozinho produza nelas o prazer.
Uma das maneiras que elas têm de aumentar a excitação e chegar a um orgasmo satisfatório é buscando o prazer que podem sentir ao curtir de variadas formas o corpo do parceiro e sendo tão ativas quanto ele na penetração. Claro que para isso elas vão ter que se libertar primeiro da preocupação excessiva em agradar ao homem.
Na realidade, um grande amante não nasce do nada. É preciso aprendizagem e muita espontaneidade. Como em qualquer forma de arte, fazer sexo requer técnica e sensibilidade. Não ter preconceitos nem ideias estereotipadas a respeito do papel do homem e da mulher, mas disposição para proporcionar e receber prazer, são requisitos básicos.
Reich dizia que o prazer máximo sexual só é alcançado quando as vísceras acompanham os movimentos, quando os sentidos fluem junto com os atos, quando os dois parceiros estão finamente sintonizados, muito presentes, atentos um ao outro e ambos isolados de tudo o mais.
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