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Regina Navarro Lins

Difícil decisão: a esposa ou a outra?

Regina Navarro Lins

25/04/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso do internauta, professor de 38 anos, casado há dez, três filhos, que se apaixonou por uma aluna, 14 anos mais jovem. Diz amar também a esposa, por quem tem enorme carinho. Mas precisa tomar uma decisão com urgência. Seu dilema é: escuta seu coração (a aluna por quem diz ter uma química perfeita) ou sua razão (a família)."

Apesar de nosso tabu cultural contra a infidelidade, são muito comuns as relações extraconjugais. Todos os ensinamentos que recebemos desde que nascemos – família, escola, amigos, religião – nos estimulam a investir nossa energia sexual em uma única pessoa. Mas a prática é bem diferente. Uma porcentagem significativa de homens e mulheres casados compartilha seu tempo e seu prazer com outros parceiros.

Sentir tesão por alguém que não seja o parceiro fixo, quase todos sentem. Se vai ou não viver uma experiência sexual com essa pessoa, depende da visão que cada um tem do amor e do sexo. O problema é que muitos entram num namoro ou casamento acreditando que os dois têm que se transformar numa só pessoa.

A antropóloga americana Helen Fisher conclui que nossa tendência para as ligações extraconjugais parece ser o triunfo da natureza sobre a cultura. "Dezenas de estudos etnográficos, sem mencionar inúmeras obras de história e de ficção, são testemunhos da prevalência das atividades sexuais extraconjugais entre homens e mulheres do mundo inteiro. Embora os seres humanos flertem, apaixonem-se e se casem, eles também tendem a ser sexualmente infiéis a seus cônjuges.", diz ela.

A poligamia – o homem ter mais de uma esposa de cada vez – é permitida em 84% das sociedades. Durante muito tempo se acreditou que só os homens tinham relações múltiplas. Entretanto, quando surgiram os métodos contraceptivos eficazes e as mulheres entraram no mercado de trabalho houve uma mudança no comportamento feminino.

Um dos pressupostos mais universalmente aceitos em nossa sociedade é o de que o casal monogâmico é a única estrutura válida de relacionamento sexual humano, sendo tão superior que não necessita ser questionado. Na verdade, nossa cultura coloca tanta ênfase nisso, que uma discussão séria sobre o assunto dos relacionamentos alternativos é muito rara.

Entretanto, as sociedades que adotam a monogamia têm dificuldades em comprovar que ela funciona. Ao contrário, parece haver grandes evidências, expressas pelas altas taxas de relações extraconjugais, de que a monogamia não funciona muito bem para os ocidentais.

É comum pessoas deixarem um bom casamento porque se apaixonaram por alguém novo, no que vem sendo chamado de monogamia sequencial. O argumento de que o ser humano é "predestinado" à monogamia é difícil de sustentar. Portanto, uma vez que nós humanos nos damos tão mal com a monogamia, outras estruturas de relacionamento livremente escolhidas também devem ser consideradas.

Todas as restrições impostas e aceitas com naturalidade ameaçam muito mais a relação do que a "infidelidade". Reprimir os verdadeiros desejos não significa eliminá-los. Quando a fidelidade se traduz por concessão que se faz ao outro, o preço se torna muito alto e pode inviabilizar a relação.

Algumas pessoas já estão se dando conta disso e, talvez por lidar melhor com o desamparo e não se submeter cegamente às normas sociais, ousam soluções nada convencionais.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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