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Regina Navarro Lins

Sexo no teclado

Regina Navarro Lins

17/03/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

 

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete já fez sexo virtual.

Há algum tempo recebi o e-mail de uma internauta sobre o tema: "Tenho 43 anos, sou professora universitária, dois filhos adolescentes, separada há cinco anos. Há quatro tenho um namorado, e a nossa relação sempre foi ótima, principalmente a sexual. Um dia resolvi experimentar o sexo pela Internet, e após algumas tentativas teclei com uma pessoa bem interessante. Passamos a marcar hora para nos encontrar no chat e depois de muitas conversas resolvemos partir para o sexo virtual. O único problema é que estou sentindo muito mais tesão por ele do que por meu namorado. Fico contanto os minutos para a hora do encontro virtual e durante a transa fico excitada de uma forma que não conhecia. Tenho andado muito perturbada com essa história. Há momentos em que é difícil acreditar no que estou vivendo."

Ao ler essa mensagem decidi saber mais sobre a experiência do sexo virtual, vivida por tanta gente. Pedi a várias pessoas que me contassem como foi. Muitos declaram ter encontrado na Internet um prazer sexual que não imaginava ser possível. Aí vão alguns relatos:

"Achei a situação muito estranha inicialmente…mas as palavras tecladas, as revelações, acabaram se mostrando extremamente excitantes. Foi muito bom."

"Conheci um cara num bate-papo e ele foi introduzindo o sexo sutilmente nas nossas conversas e hoje curtimos sexo pela internet sempre que podemos. Ele me ajudou a descobrir muitas coisas. A partir dessa experiência o sexo que pratico no mundo real melhorou 1000%."

"Eu era muito inibida na cama. Tinha medo de liberar minhas fantasias e falar coisas durante a transa. O sexo na Internet me possibilitou uma grande evolução. Acho que posso dizer que sou outra pessoa do ponto de vista sexual depois dessa experiência."

"Além de eu adorar sexo ao vivo e a cores, fazer sexo teclando, criar ambientes, com seus respectivos detalhes e climas fazem com que eu fique excitado e depois quando vou dormir eu e minha mulher fazemos bem gostoso. É mais uma forma de apimentar o relacionamento do casal."

"Fiz sexo virtual porque as circunstâncias favoreciam e o nível de envolvimento proporcionou algo inusitado. Que para muitos pode parecer estranho, pra mim naquele momento foi fantástico…"
Muitos acreditam que o sexo virtual é apenas fantasia solitária de pessoas carentes. Penso que essa estranheza ocorre porque qualquer forma de pensar e viver diferente do que estamos habituados gera insegurança e medo. Afinal, o novo assusta. Ainda mais no que diz respeito aos relacionamentos amorosos e sexuais!

Já li vários textos a respeito do tema e é muito difícil encontrar algum que o trate sem preconceitos. Uma exceção foi o artigo do professor de Comunicação Márcio Souza Gonçalves sobre os resultados de sua pesquisa.

Nela, inúmeros relatos indicam que as sensações físicas experimentadas na Internet são tão reais quanto as de um relacionamento não-virtual. "A ausência do encontro face a face e de contato físico não implica a exclusão radical do corpo: ainda que sem acesso físico ao corpo do parceiro, os envolvidos sentem, se emocionam e gozam", diz Márcio.

O que o autor sustenta, em resumo, é que os amores virtuais não devem ser entendidos como amores incompletos, artificiais, desviantes, menores, e sim como amores plenos, ainda que de um tipo novo e estranho. A história do amor é a de uma sucessão de artifícios e neste momento estamos diante de mais um tão artificial quanto todos os outros.

Uma crítica bastante comum a essa nova modalidade de relacionamento é o fato de as pessoas mentirem na Internet. Nos chats (salas de bate papo), os participantes adotam um nome fictício e podem mentir a respeito de muitas coisas, garantindo o anonimato para se sentir mais seguros: idade, profissão, lugar onde mora.

Entretanto, mesmo desejando ser atraente para o outro, não se consegue mentir no que de fato importa. Características de personalidade como sensibilidade, inteligência, humor e também a visão que a pessoa tem do mundo, essas são transmitidas desde os primeiros momentos. Da mesma forma que nos encontros ditos reais.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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