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Regina Navarro Lins

Sexo pelo prazer

Regina Navarro Lins

17/02/2015 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete já se relacionou com alguém que só desejava sexo.

Já ouvi muitas mulheres se queixando: "Os homens estão sempre querendo sexo!" Alguém acha carinho ruim? Há quem admita não gostar de prazer? Se a resposta é não, por que o sexo, que é constituído basicamente de prazer, deve ser reprimido? É claro que havendo amor é melhor. Tudo é melhor com amor. Mas isso não significa que o sexo pode ser ótimo, mesmo sem amor.

Vejamos algumas opiniões:

"O sexo é reprimidíssimo, por ser uma coisa muito libertária. As religiões e os poderosos acham que sem reprimir o sexo não há possibilidade de domínio político ou social.", diz Lula Vieira, publicitário.

"Acho inacreditável que, no século 21, essa maravilhosa fonte de prazer – que a Natureza nos deu graciosamente – ainda esteja ligada a preconceitos e à ideia de pecado, causando tanta culpa, solidão e sofrimento desnecessário ao ser humano", acrescenta escritor Francisco Azevedo.

"A liberdade sexual é falsa. As pessoas não falam abertamente sobre sexo. Podem até falar que transam, mas falar sobre a própria sexualidade abertamente, com tranquilidade, se expor, se colocar…Falar das coisas boas, dos êxtases, das coisas difíceis, é raro", conclui Fernanda Borges, professora de Filosofia.

Além do que pensa outra pessoa sobre a questão, cada um de nós sabe, intimamente, que sexo é maravilhoso. Mas apesar disso o sexo é ainda tão reprimido, tão cheio de tabus e preconceitos, que ninguém tem muita clareza do que realmente gosta ou deseja.

Quantas vezes você ouviu uma amiga afirmar, após ter ficado de carícias e beijos, que não foi a um motel com um homem porque não sentiu vontade? Ou um amigo dizer que não está a fim de sair com determinada mulher, quando no fundo o medo é de falhar?

Uma das razões principais para esse exílio da libido é que as crianças aprendem a associar sexo a algo sujo, perigoso. Vive-se como se não existisse sexo, como se ele fosse um dragão que está à nossa espreita e não devêssemos sequer pensar em sua existência.

Assim a repressão sexual vai se instalando e condiciona o surgimento de valores e regras para controlar o exercício da sexualidade. A explicação mais verossímil para essa repressão é que, quanto mais se vai ampliando e aprofundando a vida sexual, vivemos com mais coragem, vontade e decisão. Transgredir e contestar as regras impostas pode, portanto, tornar as pessoas "perigosas".

Wilhelm Reich (1897-1957), médico, psicanalista, ex-colaborador de Sigmund Freud, afirma que a repressão sexual da criança torna-a apreensiva, tímida, obediente, "simpática" e "bem comportada", produzindo indivíduos submissos, com medo da autoridade.

A observação de Reich conclui que o objetivo da repressão sexual é a fabricação de indivíduos adaptados à sociedade autoritária, que temem a liberdade, apesar de todo o sofrimento e humilhação de que são vítimas. Talvez isso explique por que muitas pessoas preferem tomar tantos ansiolíticos e antidepressivos ao invés de ousar pensar e viver de forma diferente.

A ansiedade provocada pela repressão sexual pode levar a um bloqueio emocional e a vários tipos de disfunção, como impotência, ejaculação precoce, ausência de desejo e de orgasmo, sem falar nos casos mais graves de enfermidades psíquicas. Sexo bem feito é bom e precisa ser vivido de forma livre de preconceitos.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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