A emancipação das mulheres
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana é a favor da luta das mulheres pela igualdade de direitos. É uma luta histórica, por sinal. Após a instalação do patriarcado, há cinco mil anos, a mulher adquiriu o status de mercadoria, podendo ser comprada, vendida ou trocada.
A história da mulher, assim como a história da sexualidade, é constante luta contra a opressão. As mulheres sempre sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.
Os progressivos direitos adquiridos são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é marco do início da participação efetiva das mulheres na sociedade. Não só elas, mas também os homens ganham com essa nova realidade.
A primeira vez que as mulheres reivindicaram algo, contrariando o poder dos homens, foi na Roma Antiga, no ano 215 a.C.. Durante um período crítico na guerra com Aníbal, foi decretada a lei Oppiana (assim chamada por causa do tribuno C.Oppius), pela qual as mulheres só tinham permissão de conservar meia onça de ouro, eram proibidas de andar de carruagem pelas ruas de Roma e não podiam usar roupas tingidas. Para uma mulher, o ouro significava brincos e pulseiras – para o exército era a sobrevivência.
Em 195 a.C., o movimento para repelir a lei Oppiana, se espalhou. Nem as ordens dos maridos conseguiram manter as mulheres casadas em casa. Elas ocuparam todas as ruas de Roma e todos os caminhos para o fórum. A cada dia, aumentavam as multidões de mulheres, porque elas inclusive vinham das províncias para a cidade. Quando elas realmente se aglomeraram nos gabinetes dos dois tribunos que se opunham mais fortemente à rejeição, foi demais. A lei oppiana foi abolida.
O chamado preciosismo francês aconteceu no século 17, entre 1650 e 1660. Foi uma reação das mulheres à grosseria dos homens na corte de Henrique IV. A França e Grã Bretanha foram o berço das primeiras expressões do feminismo, até porque eram os países mais cultos e liberais da Europa. As mulheres, que fizeram o preciosismo, não carregavam o fardo das tarefas maternais. Isso porque eram da elite e alimentavam a tradição das amas-de-leite.
As preciosas, como ficaram conhecidas as participantes do movimento, eram mulheres emancipadas com propostas que invertiam totalmente os valores de sua época. Elas reivindicavam dignidade e direito à ascensão social. Revoltavam-se contra o autoritarismo de pais e maridos e deixavam claro que o amor era um sentimento do homem pela mulher. O inverso dos laços habituais quando a mulher era a apaixonada.
Alguns homens, os preciosos, aceitaram esse questionamento e adotaram uma moda feminina e refinada — perucas longas, plumas, perfumes e ruge. Recusavam o ciúme e a tirania doméstica. Os valores femininos progrediam na sociedade e, no século seguinte, eram dominantes. Na França, o século das luzes representa um corte na história da virilidade. Entretanto, com a Revolução Francesa de 1789 novamente se instala uma relação de oposição entre homens e mulheres.
No século 19, a mulher se tornou o "anjo da casa". A mulher frágil e dependente do marido é o modelo. Ela cuida dos filhos, é submissa e religiosa. No século 20, Hollywood consolidou a tecnologia em favor do amor romântico. O destino da mulher seria mesmo o lar. Condicionada a corresponder às expectativas masculinas, ela não tem voz própria. Doris Day e Debbie Reynolds encarnam a mulher americana de classe média, a famosa "maioria silenciosa".
No Brasil alguns conselhos publicados pelas revistas femininas, entre nos anos 1950 e 1960, dão uma ideia da ideologia que era implantada: "A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa." (Jornal das Moças, 1965); "Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa." (Jornal das Moças,1957); "O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza." (Revista Querida, 1955).
Simone De Beauvoir publica, em 1949, O Segundo Sexo, obra seminal do movimento feminista. A pílula anticoncepcional, ao libertar a mulher de uma gravidez indesejada, é um passo decisivo para esse movimento, que começa efetivamente, em 1966, nos EUA, com a Organização Nacional das Mulheres.
Em 1963, Betty Friedan lança A mística feminina, estudo em que analisa o vazio na mulher "dona-de-casa". Desde essa época, estamos assistindo a uma profunda transformação das mentalidades. As mudanças deflagradas nas décadas de 60 e 70 são irreversíveis. As novas gerações, filhos e netos dos autores da Revolução Sexual e do Movimento Feminista demonstram, de forma inequívoca, que nada será como antes.
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