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Regina Navarro Lins

Amizade e sexo

Regina Navarro Lins

29/11/2014 07h20

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que tem um grande amigo, confidente. Mas rolou um clima e ela está com medo de transar com ele e prejudicar a amizade.

Selecionei algumas respostas dos internautas a respeito das consequências de se misturar amizade e sexo.

Há pessoas que acreditam serem grandes os prejuízos:

"Depois que você transa com uma pessoa nunca mais vai olhar pra ela da mesma maneira, e nem ela para você. Eu penso que não vale a pena se a amizade é tão importante e o risco de se envolver é grande já que ele não é qualquer um, mas um cara que você já ama como amigo."

"Se ceder vai estragar a amizade, é melhor ficar na atração do que levar para os finalmente, o amigo nunca mais será visto como amigo e sim como amigo de cama, amizade colorida ou amante, melhor ficar só na amizade."

"Em qualquer relacionamento o sexo é um divisor de águas, pra melhor ou pior. Numa relação de amizade forte onde existe uma troca de confidências, com certeza haverá instintivamente mudanças de comportamento (… ) A relação esquenta mais ou esfria de vez. Um acaba se envolvendo demais e o outro não (…) De amigos passarão a amantes… ou simplesmente amigos, mas sem a mesma intensidade (…) Um noite de tesão pode deixar inúmeras noites sem sono…

Outros acreditam ser algo bom para a amizade:

"(…) A amizade só tem a acrescentar e não atrapalha em nada. Quem pensa que transando com o melhor amigo vai perder a amizade, muito se engana. Devemos aprender a separar sexo de amor. Não podemos fazer sexo somente com a intenção de se ter um relacionamento logo e duradouro…."
"Toda amizade sadia entre um homem e uma mulher pode muito bem incluir o sexo. Cabe a eles, como seres maduros, decidir. Amizade e sexo sempre combinaram bem entre amigos de verdade."

"Não sei por que as pessoas não olham par o sexo como algo normal. Sempre o tem como algo feio e que só pode ser praticado de forma clandestina e as escondidas, como se fosse um crime….Não importa com quem (menos com os familiares) o sexo tem que ser visto como algo compensador e que merece ser vivido de forma plena e sem culpa…"

"(…) mas se ocorreu uma atração mútua, qual o problema? Então só podemos transar com quem não é amigo?"
Apesar de as mentalidades estarem mudando, muitos ainda acreditam que quem mistura amizade com sexo perde o amigo e o amante. É uma ideia muito difundida, que tem como origem a associação que se faz entre amor romântico e sexo.

Há quem defenda a ideia de que para haver sexo é necessário se estar vivendo um romance com tudo o que ele inclui: ciúme, possessividade, pavor que o outro se interesse por alguém, medo de ser trocado…

Essa crença de que amor e sexo têm que estar sempre juntos atinge principalmente a mulher. O homem não foi educado para ter que juntar as duas coisas. Muitas mulheres defendem que é da natureza feminina só desejar sexo quando existe amor, em mais uma manifestação de apoio à limitação da sexualidade da mulher.

Na realidade, amor e sexo são impulsos totalmente independentes, e é possível se experimentar prazer sexual pleno totalmente desvinculado das aspirações românticas.

Entretanto, ninguém pode esquecer que existe muito amor nas relações de amizade verdadeira. Não os equívocos do amor romântico, mas aquele amor em que os amigos participam da vida uns dos outros, discutem seus problemas, suas questões existenciais, são solidários e são até mais importantes do que uma relação amorosa tradicional. Nem sempre se tem desejo sexual por um amigo. Como em todo amor, pode haver desejo ou não. Mas se houver? Qual o problema?

A amizade corre sérios riscos se um do dois criar uma expectativa de relação com o outro diferente da amizade que sempre houve. Só porque transaram, a pessoa se acha com o direito de controlar a vida do amigo, ser ciumenta, cobrar coisas.

Nenhuma relação resiste a isso, ainda mais a de amizade, que se caracteriza justamente pela ausência de obrigações.

O que ocorre é que há quem pense que é livre, que não está mais presa aos modelos que exigem um comportamento igual para todos, mas de repente se descobre insegura, desejando uma relação tradicional. Não sabendo bem como explicar seus sentimentos, afirma que amizade e sexo não podem se misturar.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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