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Regina Navarro Lins

A frustrante ausência de ereção

Regina Navarro Lins

08/11/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta cujo namorado tem broxado sempre e não quer conversar sobre o assunto. Ela está insatisfeita, mas não sabe o que fazer.

A impotência é um fantasma que apavora homens de todas as idades. A nossa sociedade patriarcal associa equivocadamente masculinidade com ereção do pênis, além de impor ao homem estar sempre pronto e nunca falhar. Para o homem, a falta do que ele acredita ser a própria essência da sua virilidade faz desmoronar sua autoimagem, afetando-o profundamente, com reflexo para todas as áreas da sua vida.

O psicanalista argentino J.C. Kusnetzoff afirma que a ausência da ereção causa no macho uma angústia impossível de expressar em palavras, um medo ancestral que vem lá do fundo, como a água que rompe um dique. Para o homem, o símbolo da masculinidade e do ser não é o pênis, e sim o pênis ereto. Nenhum homem pode se conceber como tal quando a ereção falha, pois para ele a ereção é a sua essência, assim com a água é para o rio que, ao secar, deixa de ser rio.

Dessa forma, diz Kusnetzoff, quando isso acontece ele não quer ser consolado, e sim "curar-se" sozinho. Neste momento deseja desaparecer magicamente e voltar montado no pênis ereto, como cavaleiro ressuscitado do apocalipse vivido.

A impotência masculina aparece como a incapacidade de conseguir ou manter a ereção no momento desejado. Mas todo homem pode falhar eventualmente. O homem não é uma máquina de fazer sexo e pode ter dificuldade para ter ereção quando tenta sem estar com vontade ou quando está muito estressado. Passa a ser um problema se o homem se perturbar com isso. Isto pode ocorrer desde a primeira falha.

O pavor de novo fracasso pode criar um círculo vicioso. Se um homem fica ansioso durante o ato sexual, são liberadas substâncias como a adrenalina, afetando o funcionamento do seu sistema nervoso autônomo. Isso leva à contração dos vasos sanguíneos, impedindo o fluxo de sangue para o pênis, o que torna difícil obter ou manter a ereção. A preocupação com o desempenho acaba, então, impedindo o ato sexual.

Mas como a mulher se sente quando o homem broxa? Claro que a mulher se frustra. Principalmente se estiver excitada, desejando concluir satisfatoriamente o ato sexual. As mulheres mais imaturas e inseguras ficam até indignadas. Sempre ouviram que homem não pode ver mulher nua que tem logo ereção.

Imaginam, então, que o parceiro falhou porque não sentiu desejo suficiente por elas e se sentem agredidas. Ficam com raiva e juram nunca mais sair com ele. Entretanto, para as mulheres mais livres e seguras, a falta de ereção eventual não representa um problema grave. Entendem como acidente de percurso, que pode acontecer a qualquer homem num determinado momento.

Grande parte dos casos de disfunção erétil deixará de existir quando o homem se libertar da obrigação de provar que é macho. Partir para o ato sexual apenas quando existir desejo real pela parceira e não se preocupar com a ereção são pré-requisitos fundamentais. Aí talvez seja possível experimentar o sexo com liberdade, simplesmente para obter e proporcionar prazer, longe de qualquer tipo de ansiedade.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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