A primeira relação sexual
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana considera que existe uma idade adequada para a primeira relação sexual. Mas qual seria? Como os jovens poderiam desenvolver uma sexualidade sadia?
Não podemos nos esquecer de que ainda hoje as crianças aprendem a associar sexo a algo sujo, perigoso. Por conta de todos os preconceitos, ninguém fala com tranquilidade sobre o assunto. Sem ser percebida, a repressão sexual vai se instalando e condiciona o surgimento de valores e regras para controlar o exercício da sexualidade.
Afinal, controlar os prazeres das pessoas é controlá-las. O prazer sexual, por pertencer à natureza humana e atingir a todos sem exceção, sempre foi visto como o mais perigoso de todos.
Até o início do século 20, as moças iniciavam a vida sexual por volta dos 13, 14 anos ou até antes. Por questões econômicas ou de sobrevivência, geralmente por imposição da família, se casavam cedo e o objetivo do sexo era apenas gerar filhos.
O prazer praticamente só existia para o homem. Por ser desnecessário à procriação, para a mulher não era nem cogitado. Ao contrário, a dor e o sofrimento faziam parte do sexo. Na década de 1960, com o advento da pílula anticoncepcional, pela primeira vez na história da humanidade o sexo foi dissociado da procriação e passou a se relacionar intimamente com o prazer.
A profunda modificação fisiológica que ocorre na puberdade, com o aumento da produção de androgênios e estrogênios, prepara o corpo para a reprodução, intensificando o desejo sexual no homem e na mulher. A busca de sua satisfação é o caminho natural. Entretanto, o controle sobre o prazer continua a ser exercido.
Os rapazes são incentivados a ter logo a primeira experiência sexual, não importando com quem. A sociedade patriarcal exige deles essa prova de virilidade. Devem estar sempre dispostos, não recusar nenhuma oferta, e o mais importante, nunca falhar. A moça, ao contrário, dever reprimir seus impulsos sexuais, ocultar seus desejos, fingir que não se interessa muito pelo assunto.
Num discurso pseudoliberal, muitos pais passam às filhas uma dupla mensagem. São tantos conselhos e advertências, tantas proibições e alertas em relação aos perigos envolvidos, que em raros casos o sexo é vivido com tranquilidade e prazer. "Não tenho nada contra você ter relações sexuais com seu namorado, desde que esteja certa de poder assumir as responsabilidades, de que é um namoro sério, de que tem certeza de que o ama, de que ele não a esteja usando, e se o namoro terminar você não vai ficar mal, que não vai se arrepender…", uma mãe disse à filha de 16 anos.
Alguém, mesmo aos 80 anos, pode ter tantas certezas? E aos 14, 17, ou 18? As mães de 40 anos atrás não tinham um discurso dúbio. Tudo era proibido mesmo. Facilitavam, assim, a opção das jovens quanto à própria vida sexual. Seus valores eram passados com clareza, sendo mais fácil percebê-los como equivocados.
Acredito que o jovem deve iniciar sua vida sexual quando desejar. Os pais e a sociedade devem cuidar para que isso ocorra da forma mais natural e prazerosa possível. A saúde mental e social das pessoas depende disso. Certamente muitos casos de impotência, ejaculação precoce e ausência de orgasmo feminino seriam evitados, assim como diversos tipos de agressão sexual.
Um estudo publicado em 1975, nos Estados Unidos, feito em 400 sociedades pré-industriais, concluiu que, nas culturas não repressoras da atividade sexual de seus adolescentes, o índice de violência é mínimo.
Como a primeira relação sexual de homens e mulheres poderia ser diferente, com mais prazer? Somente quando o sexo for percebido como algo bom, natural, que faz parte da vida. E o uso da pílula e da camisinha fizerem parte da educação, como o ato de tomar banho e de escovar os dentes.
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