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Regina Navarro Lins

O agressor dentro de casa

Regina Navarro Lins

31/05/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da mulher que é agredida pelo marido, mas teme se separar e ser assassinada por ele. Isso não é raro acontecer.

A mulher sempre foi extremamente maltratada pela violência do homem, considerada banal no lar. Alegava-se que se tratava de um assunto privado e havia um ditado popular: "Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher". Foi somente na década de 1970, com a iniciativa das feministas, que se começou a estudar o impacto da violência conjugal sobre as mulheres. Mesmo assim muitas continuam sendo agredidas por seus maridos.

A psicanalista francesa Marie-France Hirigoyen, que escreveu um livro sobre o tema, diz que quando um homem estapeia sua mulher a intenção não é deixá-la com um olho roxo, e sim de mostrar-lhe que é ele quem manda. O ganho visado pela violência é sempre a dominação.

Na Idade Média, o marido tinha o direito e o dever de punir a esposa e de espancá-la para impedir "mau comportamento" ou para mostrar-lhe que era superior a ela. Até o tamanho do bastão usado para surrá-la tinha uma medida estabelecida. Se não fossem quebrados ossos ou a fisionomia da esposa não ficasse seriamente prejudicada, estava tudo certo.

Hoje, estima-se que nos Estados Unidos a violência ocorra em quase quatro milhões de lares! A mulher americana é mais vítima de agressões físicas em casa do que de acidentes de carro, assaltos e câncer somados. Quase todos os homens que agridem suas mulheres acreditam ter esse direito. E o incrível é que parece existir mesmo uma permissão da sociedade para isso

Mulheres que buscam refúgio em abrigos para mulheres espancadas relatam quase invariavelmente que seus maridos fervem de ciúme. Num estudo sobre mulheres espancadas, muitas das quais necessitaram de cuidados médicos, a mulher típica relatava que o marido "tenta limitar meu contato com amigos e família" (a tática da ocultação); "insiste em saber onde estou a todos os momentos" (a tática da vigilância) e "me xinga para me rebaixar e para que eu me sinta mal a respeito de mim mesma" (a tática de minar a autoestima) O ciúme é a causa principal do espancamento das esposas.

Mas há muitas formas de subjugar o outro; meios sutis, repetitivos, velados, ambíguos podem ser empregados com igual eficácia. Atos ou palavras desse tipo são muitas vezes mais perniciosos que uma agressão direta, que seria reconhecida como tal e levaria a uma reação de defesa.

Marie-France Hirigoyen faz uma severa crítica aos psicanalistas que consideram que as mulheres que permanecem na relação experimentam uma satisfação de ordem masoquista em ser objeto de sevícias. "É preciso que esse discurso alienante cesse, pois, sem uma preparação psicológica destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os abusos psicológicos e muito menos a violência física."

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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