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Regina Navarro Lins

A bissexualidade no futuro

Regina Navarro Lins

27/05/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A enquete da semana foi sobre sentir desejo por homens e mulheres.

É cada vez mais difícil encontrar diferenças entre anseios e comportamentos de homens e mulheres. Todos desejam ser o todo, não ter que reprimir aspectos de sua personalidade para corresponder às expectativas de atitudes consideradas masculinas ou femininas.

Acredito que a dissolução da fronteira entre masculino e feminino possibilite uma sociedade de parceria, longe do modelo de dominação de uma parte da humanidade sobre a outra, que existiu nos últimos milênios. É possível também que as pessoas venham a escolher seus parceiros amorosos e sexuais pelas características de personalidade, e não mais por serem homens ou mulheres.

As estatísticas mostram que a grande maioria já sentiu, de alguma forma, desejo por ambos os sexos. Pesquisas indicam que nos Estados Unidos em torno de 40% dos homens se envolveram em sexo com outros homens. Entretanto, os que transam com os dois sexos sempre foram acusados de indecisos, de estar em cima do muro, de não conseguir se definir.

Os heterossexuais costumam ver a bissexualidade como um "estágio" e não como uma condição alcançada na vida. Muitos gays e lésbicas desprezam os bissexuais acusando-os de insistir em manter os "privilégios heterossexuais" e de não ter coragem de se assumir. Não concordo com essas afirmações por me parecerem preconceituosas.

O pesquisador americano Alfred Kinsey acredita que a homossexualidade e a heterossexualidade exclusivas representam extremos do amplo espectro da sexualidade humana. Para ele a fluidez dos desejos sexuais faz com que pelo menos metade das pessoas, sintam, em graus variados, desejo pelos dois sexos. Em 1948, ele desenvolveu a famosa escala Kinsey para medir a homo, a hétero e a bissexualidade. Entrevistando doze mil homens e oito mil mulheres, elaborou uma classificação da sexualidade de zero a seis:

(0)Exclusivamente heterossexual.
(1)Predominantemente heterossexual, apenas incidentalmente homossexual.
(2)Predominantemente heterossexual, mais do que eventualmente homossexual.
(3)Igualmente heterossexual e homossexual.
(4)Predominantemente homossexual, mais do que eventualmente heterossexual.
(5)Predominantemente homossexual, apenas incidentalmente heterossexual
(6)Exclusivamente homossexual.

A respeitada antropóloga Margareth Mead declarou: "Acho que chegou o tempo em que devemos reconhecer a bissexualidade como uma forma normal de comportamento humano. É importante mudar atitudes tradicionais em relação à homossexualidade, mas realmente não conseguiremos retirar a carapaça de nossas crenças culturais sobre escolha sexual se não admitirmos a capacidade bem documentada (atestada no correr dos tempos) de o ser humano amar pessoas de ambos os sexos."

Pesquisadores da Northwestern University, Illinois, EUA, encontraram evidências científicas de que alguns homens que se identificam como bissexuais são, de fato, sexualmente excitados por homens e mulheres. O estudo encontrou os homens bissexuais que responderam fisicamente aos dois tipos de vídeos, masculinos e femininos. Já os homens gays e heterossexuais que participaram do estudo não apresentaram a mesma resposta física, independentemente do vídeo exibido.

Será que o amor pelos dois sexos se tornará cada vez mais comum a ponto de predominar?

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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