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Regina Navarro Lins

Frustração sexual

Regina Navarro Lins

17/05/2014 01h27

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando o "Se eu fosse você"

A questão da semana é o caso da internauta que gosta do namorado em tudo, menos do fato de ele nunca fazer sexo oral nela. Há muitas mulheres que têm queixas semelhantes.

O sexo oral é alvo de dois tipos de preconceito: imoralidade e falta de higiene, mas na Roma antiga ele sofria um terceiro: quando era praticado pelo homem era considerado desonra por colocá-lo a serviço da mulher.

Na nossa cultura judaico-cristã qualquer prática que não leve à procriação sempre foi condenada, e os genitais são, para muita gente, considerados uma parte suja do corpo, por sua proximidade com os órgãos de excreção. Claro que nada disso tem fundamento.

É sabido que a grande maioria do sexo que se pratica não é para a procriação, e com a higiene comum os órgãos sexuais podem ficar tão limpos e cheirosos como qualquer outra parte do corpo. Além disso, em condições normais, o pênis e a vulva contêm muito menos germes do que a boca.

Uma mulher pode ter sensações variadas com a boca do parceiro na sua vagina. Mas ao invés de relaxar e se entregar às sensações de prazer muitas ficam tensas imaginando o que ele está achando do gosto ou do cheiro, se está fazendo aquilo só por obrigação. Isso sem falar no temor que a proximidade da vagina pode provocar no homem. A felação era, originalmente, prática homossexual e de uso das meretrizes. Egípcias que se prostituíam costumavam pintar a boca como se fosse vulva para assim excitar os clientes.

O sexo oral aparece na maioria das pesquisas como a atividade mais utilizada antes de qualquer cópula. Shere Hite, na sua pesquisa sobre a sexualidade feminina, realizada em 1975, constatou que a maior preocupação da mulher quanto ao sexo oral é o cheiro. Algumas respostas de mulheres obtidas nesse estudo a respeito do sexo oral:

"Eu ainda não superei a ideia de que sou suja lá embaixo"; "Eu nunca tive orgasmo com cunnilingus. Gostaria, mas sinto que a minha buceta é suja e me preocupa quando alguém quer chupá-la."; "Se eu fosse homem, nunca faria isso!"; Eu sempre fico preocupada se estou cheirando mal ou com uma aparência nojenta ali."; "Eu costumava gozar sempre com cunnilingus, mas agora é raro graças à reticência do meu atual companheiro, que às vezes assume ativamente o seu nojo e outras vezes representa um belo papel de mártir."; "Eu sinto que não cheira bem, não tem bom gosto. Tenho vergonha."

Apesar de muitos homens se recusarem à prática do sexo oral com suas parceiras, como no caso do relato da internauta, calcula-se que hoje, no Ocidente, cerca de 75% dos casais experimentam a estimulação oral-genital, e pelo menos 40% a usam com frequência. E as pesquisas indicam que esses casais têm mais chance de se ajustarem sexualmente. A boca e os genitais são os órgãos mais sensíveis do corpo e bastante receptivos às sensações de prazer.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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