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Regina Navarro Lins

Homens são tão ciumentos quanto as mulheres

Regina Navarro Lins

25/03/2014 07h00

Ilustração: Lumi Mae

Ilustração: Lumi Mae

Comentando a Pergunta da Semana

A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana não considera o homem mais ciumento que a mulher. Na realidade, encontramos ciumentos em toda parte, independente do sexo.

É muito raro encontrar alguém que não considere o ciúme como parte do amor. Há quem acredite que sem ele não existe amor. A visão, equivocada, que se tem do ciúme na relação amorosa se origina na forma como o adulto vive o amor, muito semelhante à relação amorosa vivida com a mãe pela criança pequena.

A criança sempre se sente ameaçada de perder o amor da mãe, mas ela tem um motivo real para isso: necessita de cuidados físicos e emocionais. Sem esse amor, perde o referencial na vida e fica vulnerável à morte física. Para se garantir, deseja a mãe só para si e, então, se mostra controladora, possessiva e ciumenta. Não é difícil entender.

Porém, quando crescem, todos imaginam que se tornaram independentes. Basta, no entanto, entrar numa relação amorosa e por meio da pessoa amada se tenta resolver todas as necessidades infantis que pareciam superadas. O antigo medo infantil de ser abandonado reaparece, e em tudo se reedita o modelo de vínculo primário que se tinha com a mãe.

Acrescentem-se a isso as ideias tão propaladas na nossa cultura de que o amor é a solução para todos os problemas, e o convívio amoroso a única forma de atenuar o desamparo. A pessoa amada passa a ser então imprescindível. Como se fosse natural, se aceita que o controle, a possessividade e o ciúme façam parte do amor.

O ciumento, geralmente, é quem apresenta duas características fundamentais: baixa autoestima e incapacidade de ficar bem sozinho. Quem é inseguro, não se acha possuidor de qualidades e tem uma imagem desvalorizada de si próprio, teme ser trocado por outro a qualquer momento. Para evitar isso, restringe a liberdade do parceiro e tenta controlar suas atitudes. Há até os que preferem abrir mão da própria liberdade, desde que seja um bom argumento para controlar a liberdade do outro.

O historiador inglês Theodore Zeldin diz que ainda estamos só começando a aprender a evitar o ciúme. O ciúme o corpo estranho que faz ameaça constante ao sexo como criador do amor. Para ele, foi o desejo de possuir — inevitável, talvez, enquanto a propriedade dominou todas as relações — que tornou os amantes tão inseguros, com medo da perda, e se recusando em aceitar que um amor tem de ser sentido outra vez todos os dias.

No amor verdadeiro você quer o bem da outra pessoa, mas no amor romântico você quer a outra pessoa. O ciúme torna-se então inevitável. Entretanto, para que uma relação amorosa seja realmente satisfatória é fundamental haver liberdade e respeito pelo outro, que precisa ser percebido como um ser diferente e individual.

Pesquisa feita nos Estados Unidos concluiu que nenhum dos sexos é mais ciumento que o outro — embora se comportem de maneira diferente. As mulheres em geral são mais propensas a fingir indiferença, enquanto os homens, com mais frequência terminam um relacionamento quando sentem ciúmes, acreditando que assim recuperam sua autoestima e reputação.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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