A primeira relação sexual
Comentando o "Se eu fosse você"
A questão da semana é o caso da internauta que deixou de ser virgem numa viagem que fez, mas não sabe se conta isso ao noivo.
Deixar de ser virgem não é uma experiência tranquila para muitos jovens. O psicoterapeuta e escritor José Ângelo Gaiarsa dizia que "a maioria dos adolescentes se inicia no sexo meio na esquina, meio escondidinho, meio apertadinho, e nunca mais sai desse apertadinho até o fim da vida". As mentalidades estão mudando, mas a virgindade foi sempre muito valorizada para a mulher e tem um longa história.
Uma vasta literatura cristã consagrada à virgindade surgiu durante os séculos 3 e 4. Os textos valorizam sobretudo a castidade, a virgindade. O mundo terreno estaria prestes a acabar; a preocupação era com a salvação da alma. A virgindade era a garantia de ascese, o retorno à origem e à imortalidade.
Entre as mártires femininas, as favoritas eram as virgens que preferiam sofrer o tormento do piche fervente, da roda de tortura e do ferro em brasa, a consentir no ato sexual. Acreditava-se que os virgens possuíssem poderes sobrenaturais, entre eles a capacidade de prever o futuro, e seus poderes estendiam-se até ao reino animal. Em síntese, a virgindade era dotada de poderes milagrosos. Quando um leão foi solto contra Thecla, na arena, ele adivinhou misteriosamente que ela era virgem, deteve-se a pouca distância da mártir e foi humildemente lamber-lhe os pés.
Até o início do século 20, as moças iniciavam a vida sexual por volta dos 13, 14 anos ou até antes. Por questões econômicas ou de sobrevivência, geralmente por imposição da família, se casavam cedo e o objetivo do sexo era apenas gerar filhos. O prazer praticamente só existia para o homem. Por ser desnecessário à procriação, para a mulher não era nem cogitado. Ao contrário, a dor e o sofrimento faziam parte do sexo.
Na década de 1960, com o advento da pílula anticoncepcional, pela primeira vez na história da humanidade o sexo foi dissociado da procriação e passou a se relacionar intimamente com o prazer. A profunda modificação fisiológica que ocorre na puberdade, com o aumento da produção de androgênios e estrogênios, prepara o corpo para a reprodução, intensificando o desejo sexual no homem e na mulher.
A busca de sua satisfação é o caminho natural. Entretanto, o controle sobre o prazer continua a ser exercido. Os rapazes são incentivados a ter logo a primeira experiência sexual, não importando com quem. A sociedade patriarcal exige deles essa prova de virilidade. Devem estar sempre dispostos, não recusar nenhuma oferta, e o mais importante, nunca falhar. A moça, ao contrário, dever reprimir seus impulsos sexuais, ocultar seus desejos, fingir que não se interessa muito pelo assunto.
Num discurso pseudo-liberal, muitos pais passam às filhas uma dupla mensagem. São tantos conselhos e advertências, tantas proibições e alertas em relação aos perigos envolvidos, que em raros casos o sexo é vivido com tranquilidade e prazer. "Não tenho nada contra você ter relações sexuais com seu namorado, desde que esteja certa de poder assumir as responsabilidades, de que é um namoro sério, de que tem certeza de que o ama, de que ele não a esteja usando, e se o namoro terminar você não vai ficar mal, que não vai se arrepender…"
Alguém, mesmo aos 80 anos, pode ter tantas certezas? E aos 14, 17, ou 18? As mães de 40 anos atrás não tinham um discurso dúbio. Tudo era proibido mesmo. Facilitavam, assim, a opção das jovens quanto à própria vida sexual. Seus valores eram passados com clareza, sendo mais fácil percebê-los como ultrapassados.
Acredito que o jovem deve iniciar sua vida sexual quando desejar. Os pais e a sociedade devem cuidar para que isso ocorra da forma mais natural e prazerosa possível. A saúde mental e social das pessoas depende disso. Certamente muitos casos de impotência, ejaculação precoce e ausência de orgasmo feminino seriam evitados, assim como diversos tipos de agressão sexual.
Um estudo publicado em 1975 nos Estados Unidos, feito em 400 sociedades pré-industriais, concluiu que, nas culturas não repressoras da atividade sexual de seus adolescentes, o índice de violência é mínimo. Só mais um detalhe: o uso da pílula e da camisinha deveria fazer parte da educação, como o ato de tomar banho e de escovar os dentes.
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