A difícil liberdade sexual
Comentando a Pergunta da Semana
A maioria das pessoas que responderam à enquete da semana considera que o sexo é livre hoje. Afinal, ele está em toda parte. A quantidade de programas de TV com apelos sexuais seria a prova incontestável disso, entretanto, na vida de cada um, liberdade sexual é objetivo difícil de ser atingido.
O caso que me foi relatado no consultório por Pedro, economista de 29 anos, exemplifica bem isso. Ele começou namorar Suzana há alguns meses. Apesar de combinarem em muitos aspectos, e a vida a dois ser divertida, com muitos amigos e viagens, a relação não vai nada bem.
"Tudo está ótimo se eu não pensar na nossa vida sexual. Suzana não consegue se soltar na cama, a impressão que tenho é de que ela vive o sexo como se fosse um pecado. É comum ela ficar parada, sem se mexer, como se nada estivesse acontecendo. Parece até que nem está ali. O mais curioso é que quando a conheci ela era a mulher mais sensual da festa. Seu jeito de andar e dançar deixava qualquer homem excitado. Isso sem falar na roupa justa e curta que usava. Ficamos juntos naquela noite, e juro que pensei que seria o melhor sexo da minha vida. Os beijos eram ardentes e intensos. A noite prometia. A primeira decepção não demorou muito. Ela não quis ir para minha casa depois da festa. Deu uma desculpa qualquer, e combinamos de nos ver no dia seguinte. Achei estranho, mas tudo bem. No dia seguinte, aconteceu a mesma coisa… nada. Ela só aceitou fazer sexo comigo muitos dias depois. Não entendi, mas como estava muito a fim dela, continuei o namoro. Só que agora isso está virando um problema sério. Ela faz com que eu me sinta um tarado. Não foram poucas as vezes que caiu em prantos no meio da transa. Nunca me aconteceu nada parecido e fico sem saber se desisto de uma vez ou se dou um tempo para ver se as coisas melhoram."
O sexo é alvo da maior perseguição na área dos costumes e fonte de grandes sofrimentos. Todos se reprimem e estão sempre prontos a criticar o outro por sua conduta sexual. As pessoas padecem por conta das próprias fantasias, desejos, culpas, medos e frustrações sexuais.
O psicanalista W. Reich tinha razão quando denunciou, na primeira metade do século 20, a miséria sexual das pessoas. Ele lutou a vida inteira, apesar dos ataques sofridos, para convencer-nos de que a sexualidade, quando expressa de modo adequado, é a nossa principal fonte de felicidade. E quem é feliz está livre da sede de poder. Ele dizia que, se alguém tem a sensação de uma vida viva, alcança uma autonomia que se nutre das potencialidades do "eu".
Apesar de os preconceitos terem diminuído, a maioria das pessoas não vive o sexo como algo natural, bom, desejável. Controlar a sexualidade das pessoas significa controlar as pessoas. Esse controle se inicia na infância e continua por toda a vida. Os valores repressores são absorvidos de tal forma que, não percebendo sua existência, as escolhas pessoais, predeterminadas no inconsciente, assumem aparência de escolhas livres. Esse é o grande perigo da repressão sexual e o principal motivo da baixa qualidade do sexo praticado.
O psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa afirma que quanto mais a pessoa amplia, aprofunda e diversifica sua vida sexual, mais corajosa se torna. Vive com mais vontade, mais alegria, esperança e decisão. Pode vir a representar perigo do ponto de vista da ordem estabelecida. "Por ser arriscado, a maior parte das pessoas renuncia à sexualidade e fica quieta no seu canto e vai se apagando de vida, de corpo e de espírito.", diz ele. Será que não está na hora de mudar essa mentalidade?
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